Nobel Malala exorta a coligação global para proteger mulheres afegãs
27 de ago. de 2021, 09:20
— Lusa/AO Online
Malala,
que sobreviveu em 2012 a um atentado perpetrado pelos talibãs por
defender a educação das mulheres, declarou-se “muito preocupada e
exausta” perante a escalada autoritária no Afeganistão, depois de o
Presidente do país ter abandonado o país e o grupo extremista ter tomado
o poder.“Toda
a gente tem medo, toda a gente está preocupada”, disse a ativista
durante um evento ‘online’ organizado por uma empresa de investimento
brasileira.Apesar
de considerar que os talibãs poderão estar “ligeiramente mais
moderados” do que quando governaram o país entre 1996 e 2001, a Nobel da
Paz indicou que as mensagens que chegam do país asiático são, até
agora, “de sinal contrário” e “não claras”.“A
mensagem dos talibãs é muito vaga, ainda não está muito claro. Houve um
compromisso quanto aos direitos das mulheres, de acesso à educação e ao
trabalho, mas estão todos muito assustados à espera do que vai
acontecer”, disse Malala, acrescentando que mantém contacto com líderes
mundiais e ativistas para ajudar a retirar cidadãos afegãos do país em
segurança.“É
uma situação complicada, mas estamos a fazer tudo o que é possível para
protegê-los e retirá-los do país, em especial aos grupos de maior
risco”, assegurou.A
ativista instou os países a porem de lado “o egoísmo” e a abrirem as
suas fronteiras para acolher os afegãos ameaçados pelo regime talibã,
facultando abrigo, proteção e acesso à saúde e à educação.Pediu
igualmente que mais países se envolvam nas operações de retirada de
civis do Afeganistão, que decorrerão até 31 de agosto, e ofereçam
“instalações seguras”, para que as pessoas possam chegar ao aeroporto de
Cabul sabendo que deixarão o país de forma segura.“Mas
como os voos são muito difíceis, as pessoas também deveriam encontrar
segurança atravessando as fronteiras com o Turquemenistão, o Irão, o
Paquistão ou a China”, comentou.Em
tempos de conflito, prosseguiu Malala, a educação torna-se “mais
necessária que nunca”, pelo que a comunidade internacional não pode
“permitir que aconteçam coisas sem ajudar”.“Não
acreditamos em promessas verbais, precisamos de ver ações concretas. É
muito importante que os Governos dos países vizinhos [do Afeganistão] se
unam numa coligação para proteger as pessoas e os seus direitos”,
sustentou.“A
negação dos direitos já aconteceu no passado. Como confiar nas mesmas
pessoas que já negaram os direitos da população?”, indagou.A
Nobel também revelou que, há duas semanas, enquanto os talibãs tomavam o
poder no Afeganistão, ela estava a recuperar da sua sexta cirurgia
desde que, há nove anos, foi baleada na cabeça pelo grupo radical
islâmico, o que a impediu de continuar a lutar pela educação das
meninas.“Os
talibãs tentaram silenciar-me, e a melhor resposta que poderei dar é
continuar a erguer a voz para defender o direito das meninas a estudar”,
concluiu.