No interior de São Miguel só se espera "más notícias"

7 de out. de 2012, 18:26 — Lusa / AO online

  "A crise que está em Lisboa vai chegar cá ainda com mais força", avisa José Silvério, enquanto lê o jornal desportivo de sábado na praia de Santa Bárbara, concelho da Ribeira Grande: "Os açorianos estão muito mal habituados, estão sempre à espera que o Governo Regional resolva os problemas mas o que vem aí ninguém vai resolver". Fora de Ponta Delgada, as portas dos cafés são poiso de conversa e de desabafo dos açorianos, muitos deles desempregados. Em Rabo de Peixe, Ribeira Grande, Artur Simões é neto e filho de pescador. Não quis seguir a vida da faina e agora encontra-se sem emprego e a suspeitar que o seu futuro passa pelo que fica depois do mar. "Até ao final do ano vou para os Estados Unidos. Aqui já não dá. Aqui já morreu: não há indústria nem emprego. Só quem tem uns terrenos ainda se vai safando", desabafa, sentado no muro em frente à igreja de Rabo de Peixe, por estes dias engalanada para a festa anual. Nas estradas são visíveis os pendões partidários e os carros de campanha circulam um pouco por todo o lado, mas as promessas da campanha não parecem entusiasmar os eleitores. "Não acredito neles. São todos aldrabões e toda a gente sabe que não são eles que mandam. Quem manda nela (Berta Cabral) é o doutor João Bosco [Mota Amaral] e o outro, aquele mais bonito [Vasco Cordeiro], só faz o que o César diz", resmunga Maria Amélia, 82 anos de vida, a maior parte deles a cuidar de vacas nos Mosteiros, concelho de Ponta Delgada. "A nossa vida é isto: a lavoura, trabalhar de sol a sol. Os políticos não nos dizem nada porque quem manda, afinal, é Lisboa", diz a idosa que, no entanto afirma que vai votar PS. "Não podemos ter PSD a mandar lá no continente e a mandar cá. Isso era uma desgraça", justifica. Sara Botim, de 23 anos, tem posição contrária: "Eu vou votar na Berta. É uma mulher e tem gente nova. E fez um bom trabalho em Ponta Delgada". Para a funcionária de um café na Ribeira Grande, a "crise já chegou e bem aos Açores", como prova a "falta de clientes com dinheiro" na restauração. Sentado na mesa da esplanada de Ribeira Grande, António Pombeiro, de 29 anos, concorda e diz que já nem a agricultura salva os Açores: "levam-nos tudo com impostos e com os preços das coisas. Mais diz menos dia, vamos ter de vender as vacas para sobreviver". Esta crise afeta mais os pequenos produtores, explica, salientando que os "grandes estão a ficar com todo o negócio da lavoura e depois não há emprego para ninguém". Sentado num banco de jardim, perto de Porto Formoso, Artur Simas, de 61 anos, não diz em quem vai votar mas admite que a cruz será assinalada sem grande convicção. "Querem-nos a trabalhar até perto de morrermos. E depois ganhamos 400 euros que não chegam sequer para os medicamentos", diz, cético para com o poder que os políticos regionais possam ter de facto. "Já nem Lisboa manda em Portugal, como é que os Açores podem mandar neles próprios?" - questiona, instantes depois de uma caravana do Partido Democrático do Atlântico (PDA) ter-lhe entregue um folheto. E se os Açores fossem independentes? Artur Simas sorri e encolhe os ombros: "precisamos é de dinheiro, isso é que é a independência". No dia 14 de outubro, realizam-se mais umas eleições regionais nos Açores, um escrutínio que tem como favoritos Vasco Cordeiro, pelo PS, e Berta Cabral, pelo PSD.