No fim do acampamento 'bolsonarista' de São Paulo, há um português que pede luta contra o comunismo
Brasil
9 de jan. de 2023, 18:23
— Lusa/AO Online
Desmontando uma tenda com poucos
objetos pessoais, algumas cadeiras, garrafas de água, caixas, um
capacete e uma placa pendurada criticando movimentos e correntes
ideológicas de esquerda, Amílcar explicou que sairia do acampamento e
voltaria para casa pacificamente porque os ‘bolsonaristas’ respeitavam
os militares com quem fizeram um acordo logo no início da mobilização.“Eu estou simplesmente cumprindo aquilo que foi combinado porque eu sou um homem de palavra”, afirmou.Aos
76 anos, nascido em Bragança e a viver há 40 anos no Brasil, Amílcar só
autorizou a divulgação do seu primeiro nome, com receio de represálias
dos apoiantes de Lula da Silva, atual Presidente brasileiro, que
considera ilegítimo.Visivelmente
emocionado, o ‘bolsonarista’ disse que esteve no acampamento logo a
seguir à segunda volta das eleições brasileira (31 de outubro), dormindo
numa tenda ou num automóvel para tentar impedir que aconteça no Brasil
“o que aconteceu em Angola”, um país que é, no seu entender, um exemplo
dos danos causados pelos comunistas.“Portugal,
que mesmo ainda hoje que se diz democrático, é democrático entre aspas,
porque quem manda lá mesmo são os socialistas”, disse à Lusa,
acrescentando: “Eu estou vivendo aqui como mendigo para que os meus
filhos amanhã não precisem mendigar o pão de cada dia”.“Eu não quero ver os meus filhos serem obrigados a comer cachorro, como acontece na Venezuela”, acrescentou.Na
área externa do Comando Militar do Sudeste, localizado nas proximidades
do parque do Ibirapuera, zona nobre de São Paulo, o clima desta segunda-feira era
de desmobilização e tranquilidade, um dia depois de, na capital, vários
apoiantes de Bolsonaro terem invadido e vandalizado os edifícios que
simbolizam os três poderes do Estado (legislativo, judicial e
executivo).Cerca de 50 ‘bolsonaristas’ que
lá estavam desmontavam suas barracas e guardavam as coisas que lá
estavam indicando que sairiam pacificamente do local depois que as
autoridades da Polícia Militar e do Exército lhes pediram para irem
embora.Os agentes de segurança
acompanhavam tudo com calma sem interferir. Alguns jornalistas
permaneceram distantes, outros entraram na área para observar a
desmobilização do movimento ‘bolsonarista’ em São Paulo.Ronaldo
Mota, empresário que participa do movimento em apoio ao ex-presidente
brasileiro aos finais de semana, dormindo numa caravana, disse à Lusa
que era um patriota e grande admirador de Jair Bolsonaro, mas iria
respeitar os militares, até porque acredita que as forças armadas irão
derrubar o vencedor das eleições de outubro, Lula da Silva.“Eles
pediram para sair. Eu diria que eles insinuaram, na minha
interpretação, eles colocaram assim: agora é connosco”, afirmou
referindo-se a uma suposta ação que estaria a ser planeada pelos
militares em apoio aos pedidos dos ‘bolsonaristas’ que defendem uma
intervenção militar e uma auditoria no resultado das urnas eletrónicas
por não acreditarem na vitória do líder progressista e Presidente
brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.“Eu
falei para eles [companheiros ‘bolsonaristas’ que estavam acampados]:
nós vamos continuar fazendo o quê? Ficar gritando feito uma besta até
quando? Nós, civis, já fizemos a nossa parte. Agora cabe a eles
[militares]. Eles entregaram. O que nós vamos fazer? Se eles entregarem
os pontos, o que é que nós vamos fazer?” - questionou. Amílcar,
por sua vez, prometeu que, embora estivesse a desmontar o acampamento,
continuará na luta política atuando em vários grupos de mensagens e
online, onde articular ações com outros 'bolsonaristas'.“Eu
tenho vários grupos de ativistas, portanto, vou continuar com eles,
porque o comunismo não para e nós não podemos parar (…) Eu não sei aonde
isto vai parar”, contou o português.Acampamentos
mantidos por apoiantes do ex-presidente brasileiro estão a ser
desmobilizados em todo o Brasil nesta segunda-feira por ordem do Supremo
Tribunal Federal numa resposta das autoridades a atos de vandalismo
protagonizados por alguns grupos em Brasília.Apoiantes
de Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do
Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em
Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e
suscitando a condenação da comunidade internacional.A
Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três
poderes, numa operação de que resultaram em centenas de detidos.A
invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira
apoiantes do anterior presidente, derrotado por Lula da Silva nas
eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a
Esplanada dos Ministérios.Entretanto, o
juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o
governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando
que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo
ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão atuado com
negligência e omissão.