Nicolás Maduro diz não ter motivos para retomar diálogo com oposição venezuelana
16 de fev. de 2023, 09:15
— Lusa/AO Online
“Nós
temos sido muito claros. Dialogamos com todos os que há para dialogar,
até com o diabo, com o favor de Deus e as suas garantias de proteção (…)
mas, há algo muito simples, quando tu dialogas, tens de ter palavra. Ao
conversar com alguém, dizes que fazes isto e assinas”, salientou.Nicolás
Maduro falava durante a celebração do 9.º aniversário do programa “Con
el mazo dando” (dando com o malho), transmitido pela televisão estatal
venezuelana e apresentado por Diosdado Cabello, que é tido como o
segundo homem mais forte do chavismo.Maduro
continuou: “Além disso, convocas governos tão sérios como os do México,
da Noruega e Rússia, como garantes, como observadores, e depois dizes
que não te lembras do que assinaste. Que motivação, que certeza, podemos
ter para nos sentarmos e voltarmos a falar com estas pessoas”,
questionou o governante.Segundo Maduro, a
oposição comprometeu-se a desbloquear 3,2 mil milhões de dólares (2,9
mil milhões de euros) de ativos da Venezuela, que devido às sanções
internacionais estão retidos em bancos de países como Estados Unidos e
Portugal.“Assinaram um acordo social por
3,2 mil milhões de dólares e agora dizem que não têm um único dólar, que
o Governo dos EUA os abandonou, os atirou para o vazio, e que não têm a
certeza de poderem cumprir esse acordo”, disse.“Se
não podem cumprir um acordo que foi discutido durante meses, que foi
assinado com garantes internacionais, com observadores internacionais,
que garantia, certeza, motivação pode o Governo revolucionário,
bolivariano ter para se sentar novamente com este setor”, perguntou. E
respondeu: “Nenhuma!”.Maduro explicou que
esse dinheiro seria investido em eletricidade, água, saúde, educação e
para atenuar os efeitos das chuvas no país. O dinheiro, notou, “pertence
aos venezuelanos” e seria usado para desenvolver “projetos concretos,
bem concebidos e estudados” para a melhoria daqueles serviços.Em
18 de janeiro de 2023, o Governo venezuelano condicionou a retoma do
diálogo com a oposição à devolução dos ativos do país que estão
bloqueados no estrangeiro e acusou os EUA de continuarem a ameaçar a
Venezuela com novas sanções.“Se não
cumprem com a devolução, ao povo da Venezuela, dos 3, 2 mil milhões de
dólares que roubaram, que sequestraram e que tínhamos chegado a acordo
de que devolveriam, então não há razão para continuar um diálogo com
gente que não tem palavra”, disse e chefe da delegação que representa o
Governo na mesa de diálogo com a oposição, Jorge Rodríguez, durante uma
sessão da Assembleia Nacional (parlamento), onde o chavismo detém a
maioria.Em 04 de dezembro, a opositora
Plataforma Unitária Democrática (PUD) da Venezuela acusou o Governo de
procurar “sair dos acordos” negociados no México.“Queremos
denunciar que o regime ativou uma série de ações que procuram sair dos
acordos", afirmou a oposição em comunicado, frisando que pretende
"continuar as negociações sobre questões políticas" e conseguir a
libertação de "presos políticos", além do regresso de "milhões de
famílias e exilados" à Venezuela.Em 25 de
novembro de 2022, o Governo e a oposição da Venezuela assinaram, no
México, um segundo acordo parcial em matéria de proteção social.O
acordo, que visa desbloquear recursos para ajudar as populações mais
vulneráveis, determina que Governo e oposição terão de cooperar em
despesas humanitárias, como o pagamento de projetos de assistência
médica ou a reparação de redes elétricas.Segundo
o chefe da delegação da oposição, Gerardo Blyde, os recursos seriam
canalizados através de um fundo fiduciário que seria desenhado e
executado pela ONU.A 31 de novembro,
Nicolás Maduro pediu o desbloqueio dos recursos do país que estão
congelados no estrangeiro e “eleições livres de sanções internacionais”.Washington
respondeu que vai manter intacta a política de sanções até que sejam
dados passos concretos para o “regresso da democracia” à Venezuela.