Neuropediatra do Sta. Maria diz que médica foi pressionada a marcar consulta
Caso gémeas
10 de jan. de 2025, 18:07
— Lusa/AO Online
“Recordo
que foi feita pressão sobre Teresa Moreno para fazer a marcação. Teresa
Moreno não marcou [de imediato] e depois há essa pressão. Não é um
pedido inocente”, afirmou Tiago Proença dos Santos na comissão
parlamentar de inquérito ao caso das crianças tratadas para atrofia
muscular espinal em Lisboa, em 2020. A
neuropediatra Teresa Moreno já havia relatado insistências por parte da
diretora de pediatria do Hospital de Santa Maria, Ana Isabel Lopes, para
que o agendamento fosse feito, com referências então diretor clínico da
unidade Luís Pinheiro.O médico indicou
que foi “aberta uma Caixa de Pandora” e que o Serviço de Neuropediatria
do Hospital de Santa Maria começou a “ter pedidos de cidadãos de outros
países, de lusodescendentes ou de outros países não relacionados com
Portugal”. “Nunca houve uma resposta
formal”, salientou, adiantando que “nunca teve qualquer interferência
política na marcação da consulta”, nem qualquer outro médico “manifestou
interferência política para marcação de uma consulta”. Tiago
Proença dos Santos esclareceu, no entanto, que “o primeiro pedido foi
feito pela mãe [das crianças] através de email”, mas desconhece de quem
foram os outros. “Não sei responder. Acho que Teresa Moreno já respondeu”, observou. O
médico disse ainda que “não fazia ideia” quem era o secretário de
Estado da Saúde, na altura dos factos, e que não sabe se é verdade se
houve um pedido de António Lacerda Sales para a marcação da consulta. “Até
isto ser discutido, não fazia ideia quem era o secretário de Estado.
Nunca ouvi falar de um nome em concreto. Ouvi falar em secretário de
Estado, mas não sei se é secretário de Estado ou secretária de Estado.
Sabia que houve um pedido da secretaria de Estado da Saúde, mas não faço
ideia se é verdade. Não faço ideia se isso é verdade”, ressaltou. O
neuropediatra explicou também que “a marcação da consulta é um ato
administrativo” e que os médicos “nunca acharam que as doentes não
deveriam ser tratadas”, mas que não devia ser acelerada, referindo-se à
carta enviada ao então diretor clínico do Santa Maria Luís Pinheiro.“Nós
não pedimos para negar nada, só pedimos para não agilizar. A nossa
questão era se deveriam ser presentes nessa consulta. (…) Elas já
estavam salvas. Quando fazem o tratamento [com Zolgensma] já tinham sido
salvas com o tratamento que estavam a ter no Brasil”, considerou. Segundo
o clínico, à data da marcação da primeira consulta, em 5 de dezembro de
2019, “não estavam reunidas condições” para as crianças se deslocarem a
Portugal.O principal autor da carta
dirigida ao então diretor clínico Santa Maria a contestar o tratamento
explicou que o texto é uma chamada de atenção aos “responsáveis para que
façam uma reflexão” sobre as prioridades da unidade hospitalar e para
demonstrar desconforto por pessoas não-residentes no país terem acesso
ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).“A
nossa preocupação foi de natureza económica. Queríamos alertar para a
despesa. A nossa preocupação era avisar o Conselho de Administração que
aquilo que nos estavam a pedir ia custar 4 milhões de euros”, alertou,
precisando que não estava em causa o uso da “cunha”.Rejeitando
comentar os rumores no hospital de referências às crianças como “as
meninas do Presidente”, Tiago Proença dos Santos informou ainda que “não
houve nenhum cidadão português prejudicado” por as crianças terem tido o
tratamento com Zolgensma.