Nelson Pereira diz que ouviu alguém gritar "'isto correu mal, vamos embora'"
Sporting
4 de dez. de 2019, 17:48
— Lusa/AO Online
Nelson Pereira, à data dos factos treinador dos guarda-redes da equipa
principal do Sporting, foi ouvido esta tarde como testemunha na nona
sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de
2018, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
“Há uma frase que guardo, quando alguém gritou bem alto:‘isto correu
mal, vamos embora daqui’. E começaram todos a sair do vestiário. Os
jogadores estavam em pânico. Fiquei por ali a tentar dar algum apoio aos
jogadores, alguns choravam, outros gritavam que iam embora”, relatou ao
coletivo de juízes o atual coordenador técnico na Academia do Sporting.
“Não consigo dizer que vinham para a conversa, mas também não consigo
dizer que vinham deliberadamente para agredir. Percebemos que vinham
exaltados: vamos marcar posição, algo do género. Nunca me ocorreu que os
adeptos, as claques [fizessem aquilo]. Por isso é que me chocou um
bocadinho. Alguém dar com um cinto é inconcebível e deixa-me triste.
Alguém perdeu ali o discernimento das coisas e acabou assim. Lido com
estas pessoas há 23 anos e sempre fui bem tratado”, respondeu Nelson
Pereira ao advogado do Sporting. Nelson
Pereira encontrava-se no ginásio quando, através da janela, viu “um
grupo de pessoas a correr no exterior, na zona dos campos de treino, com
a cara coberta”, situação que achou “anormal e estranha”, razão pela
qual correu na direção dos balneários na tentativa de avisar os atletas
ou de fechar a porta do vestiário, mas que não tinha a chave.
A testemunha, que se chegou a emocionar durante o depoimento, explicou
que o grupo chegou até à porta que dá acesso ao vestiário:“Já
deparo com eles muito em cima de mim e, naquele momento, tentei
impedir. Quando falo com um deles, diz-me: ‘Nelson, isto não é contigo, é
com o Acuña e o Bataglia’. Respondi ‘não deem cabo disto, não brinquem
com isto’. Fui empurrado e entraram.” Para
o então treinador de guarda-redes, que contabilizou cerca de 20
pessoas, foi “tudo muito rápido”, mas viu agressões a futebolistas: “Vi o
Misic a ser agredido com um cinto, no tronco. Há uma altura que o Rui
Patrício e o William Carvalho estavam de pé no meio daquilo tudo e foram
empurrados. Mas havia muito fumo devido às tochas deflagradas e
atiradas para o meio do vestiário. Eu apaguei uma delas e há outra que
foi lançada e que atingiu o professor Mário Monteiro, já no corredor,
quando já estavam a sair.” Só mais tarde é
que se apercebeu que o holandês Bas Dost estava ferido, assim como “o
mister Jorge Jesus, que tinha uma marca, e o Ludovico [fisioterapeuta]
também”. A viatura do antigo guarda-redes
foi atingida com um cinto e por tochas. Nelson Pereira disse que gastou
3.000 euros na reparação do Porsche, que teve de levar um ‘capot’ novo.
Durante os cinco anos em que foi um dos capitães da equipa principal do
Sporting, Nelson Pereira referiu que houve reuniões com as claques,
sobretudo quando os resultados eram negativos, mas que as mesmas “eram
programadas, autorizadas e acompanhadas”.
Nelson Pereira contou ainda ter estado presente na reunião entre o então
presidente Bruno de Carvalho e os elementos do 'staff', realizada em 14
de maio de 2018, véspera do ataque, já depois de Bruno de Carvalho ter
reunido com a equipa técnica. “O
presidente disse-nos que teria de tomar medias, pois tínhamos falhado um
dos principais objetivos da época [acesso à Liga dos Campeões, após
derrota 2-1 no Marítimo]. Queria saber do 'staff' quem estava com ele,
que quem não estivesse que saísse, pois ia tomar medidas. E lembro-me de
ter dito que ainda tínhamos uma taça [de Portugal] para ganhar. Quando
entrámos para essa reunião, as notícias que circulavam eram de que o
treinador tinha sido despedido. Nós, o 'staff', éramos a equipa que já
vínha a trabalhar no clube, independentemente do treinador”, explicou
Nelson Pereira. A próxima sessão está
agendada para segunda-feira, 09 de dezembro, durante a qual serão
ouvidos os primeiros jogadores: o guarda-redes Luís Maximiano, Wendell e
Jeremy Mathieu.