Negociações pós-Brexit na reta final mas incerteza continua
UE/Presidência
17 de nov. de 2020, 12:16
— Lusa/AO Online
O
negociador chefe britânico, David Frost, viajou para Bruxelas para se
encontrar com o homólogo europeu, Michel Barnier, e tentarem encontrar
soluções que eliminem as divergências que continuam a separar os dois
lados. O alinhamento do Reino Unido com a
UE em termos de regras de concorrência e o acesso dos barcos europeus às
águas de pesca britânicas são os dois principais pontos de discórdia. "Houve
algum progresso numa direção positiva nos últimos dias. Também agora
temos, em grande parte, projetos de textos comuns de tratado, embora
elementos significativos, é claro, ainda não tenham sido acordados.
Vamos trabalhar para construir sobre isso e chegar a um acordo geral, se
possível. Mas pode não ser possível", escreveu Frost na rede social
Twitter.A reunião do Conselho Europeu por
videoconferência esta quinta-feira é vista como um novo prazo para o fim
da saga devido à necessidade de um acordo ser escrito, traduzido e
analisado pelos 27 Estados membros, processo que pode durar várias
semanas. Mas o Sunday Times noticiou que
as conversas podem prolongar-se até 23 de novembro e o Daily Telegraph
revela que o Parlamento Europeu, órgão ao qual cabe a palavra final para
o texto ser ratificado, está disposto a esticar até 10 de dezembro,
primeiro dia do próximo Conselho Europeu na agenda.Para
trás ficaram os prazos de junho e 15 de outubro que o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, tinha sinalizado como decisivos.A
demissão dramática na semana passada de Dominic Cummings, o diretor de
estratégia e principal assessor do chefe do Executivo foi descrita por
alguns analistas como um potencial ponto de viragem na posição de Boris
Johnson. Cummings é um ativista eurocético
que liderou as campanhas bem sucedidas contra a adesão do Reino Unido
ao euro e a favor da saída do país da UE, e ajudou Johnson a ser eleito
com maioria absoluta em 2019. "A saída de
Cummings torna o acordo um pouco mais provável, mas não vai alterar
fundamentalmente a dinâmica da negociação", avisou o analista Mujtaba
Rahman, da consultora Eurasia Group.O
primeiro-ministro tem sido inflexível na sua missão de "retomar o
controlo" e a soberania do país, porém a eleição de Joe Biden para a
presidência dos Estados Unidos veio "mudar o cenário", acrescentou
Rahman. Já a saída de cena de Donald Trump
aumenta a pressão sobre o governo britânico para chegar a um acordo,
mesmo que seja muito "fininho" e limitado. Em
setembro, Joe Biden criticou uma proposta de lei do governo britânico
que anula partes do Acordo de Saída do Reino Unido da UE e alertou para o
risco de o processo de paz na Irlanda do Norte se tornar numa "vítima
do Brexit". "Qualquer acordo de comércio
entre os Estados Unidos e o Reino Unido está condicionado ao cumprimento
do Acordo e ao não retorno a uma fronteira física. Ponto final”,
avisou.Outra razão ainda mais forte para
chegar a um acordo antes de o período de transição acabar é evitar o
choque económico e os "desafios" resultantes do fim do acesso direto ao
mercado único. A partir de janeiro, além
do pagamento de potenciais taxas aduaneiras, vai ser obrigatório o
preenchimento de formulários aduaneiros e feitos controlos
fitossanitários a produtos que atravessem as fronteiras entre os dois
territórios.A antecipação de perturbações
na travessia do Canal da Mancha entre o sul de Inglaterra e França levou
o governo britânico a criar de parques de estacionamento temporários
devido ao risco de se formarem filas de milhares de camiões.Na
ausência de um acordo, a UE terá de avançar com medidas de contingência
para tentar minimizar distúrbios nas relações entre os dois países, que
continuam a ser vizinhos e parceiros em muitas áreas para além da
economia. Se tal acontecer, o fim do
'Brexit' fica novamente em suspenso e a presidência portuguesa, no
primeiro semestre de 2021, poderá ter de mediar este processo de
'divórcio' que dura há mais de três anos.