Neeleman rejeita que ‘fundos Airbus’ tenham servido para comprar ações da companhia
TAP
21 de jun. de 2023, 08:34
— Lusa/AO Online
O
empresário, que respondeu a 80 perguntas enviadas pela comissão
parlamentar de inquérito à TAP, documento a que a Lusa teve acesso,
disse que os montantes qualificados como ‘fundos Airbus’, uma
terminologia que considera estar a ser usada
"impropriamente", não "serviram para adquirir as ações da TAP”.Pelo
contrário, assegurou, “as ações da TAP foram pagas pela Atlantic
Gateway à Parpública pelo valor acordado e que correspondeu a 10 milhões
de euros”.Segundo Neeleman, “este preço
foi pago com fundos próprios da Atlantic Gateway”, acrescentando que
“antes de ser efetivado qualquer acordo com a Airbus”, antes de “ter
administradores nomeados na TAP, antes de ter qualquer ação ou direito
de voto na TAP, a Atlantic Gateway teve de pagar à Parpública, com
fundos próprios, um adiantamento de preço no montante de dois milhões de
euros, em 24 de junho de 2015, data da celebração do acordo de venda
direta”.Neeleman garantiu que estes fundos
“foram integralmente utilizados na capitalização da TAP no âmbito do
Projeto Estratégico” que foi preparado “e que foi integralmente validado
tanto pelo Governo aquando do processo de privatização, como pelos
vários Governos que se seguiram”.“De
resto”, acrescentou, “mesmo com o plano de restruturação da TAP aprovado
pelo atual Governo e pela Comissão Europeia, não foi feita qualquer
mudança de fundo” ao Projeto Estratégico apresentado.“Se
a Atlantic Gateway propôs o referido Projeto Estratégico, foi convicta
da sua oportunidade e sucesso”, destacou. Para Neeleman, as necessidades
de capitalização da TAP “eram de tal forma urgentes e indisputáveis,
que logo em 2015 e 2016 esses fundos foram utilizados e consumidos pela
TAP no pagamento de salários e nas suas necessidades imediatas de
tesouraria”.O empresário garantiu mesmo
que “tais fundos, em conjunto com as outras prestações acessórias e o
empréstimo da Azul, salvaram a TAP de uma insolvência imediata”.“Ao
contrário do que alguns pretendem fazer crer e uma mentira não se torna
verdade por ser repetida muitas vezes, a encomenda que a TAP tinha com a
Airbus dos A350 não tinha valor económico, porque a posição no contrato
não era transmissível”, referiu ainda.Ou
seja, “a TAP não podia ir ter com outra operadora e vender-lhe a sua
posição na encomenda dos A-350 porque a Airbus simplesmente não
autorizava”, disse Neeleman.O empresário rejeitou ter feito um mau negócio para a TAP na renovação da frota.“Eu
não fiz um mau negócio para a TAP, não prejudiquei a empresa e jamais –
como já ouvi dizer e escrever – ‘recebi luvas’ ou comissões pelo
negócio com a Airbus. Tal suspeita é insultuosa e inaceitável”, vincou.Neeleman
destacou que “o contrato dos 12 aviões A350 exigia que a TAP pagasse os
‘pre-delivery payments’ [pagamentos antes da entrega] quando não tinha
tesouraria para o fazer, portanto era evidente que a TAP ia perder esse
contrato podendo a Airbus reter os montantes que, entretanto, tinham
sido pagos pela TAP”. O negócio entre
David Neeleman e a Airbus permitiu a capitalização da companhia pela
Atlantic Gateway (consórcio de Neeleman com Humberto Pedrosa que ganhou a
privatização feita pelo Governo PSD/CDS-PP), no valor de 226,75 milhões
de euros.O antigo secretário de Estado
Sérgio Monteiro disse, no parlamento, ter ficado com a convicção de que
se tratou de um desconto comercial, devido à dimensão da encomenda.Adicionalmente,
uma auditoria pedida pela TAP concluiu, no ano passado, haver indícios
de que a companhia possa estar a pagar mais do que as concorrentes pelos
aviões Airbus, tendo o Governo decidido enviá-la para o Ministério
Público, que abriu um inquérito.