Natal continua a produzir excesso de resíduos, como há 20 anos
Hoje 11:04
— Lusa/AO Online
“Há um excesso de embalagens. Há
pouco trabalho de evolução da parte das marcas. Não houve uma transição
em termos de sustentabilidade. Mantêm-se os modelos de descartabilidade,
de embalagem como argumento de venda”, critica em declarações à Lusa.Susana
Fonseca é vice-presidente da associação ambientalista Zero mas há 18
anos fazia parte de outra associação de ambiente, a Quercus, quando em
declarações à Lusa apontava também a “larga margem” da população
portuguesa que ainda não fazia reciclagem, a propósito do lixo doméstico
dos dias 24 e 25 de dezembro.Questionada pela Lusa sobre o que mudou em quase duas décadas, diz que
de diferente há hoje uma melhor rede de ecopontos, mais próximos das
pessoas, que pode levar a uma maior reciclagem, mas acrescenta que por
outro lado houve um aumento do consumo, com as pessoas a terem “acesso a
muitas mais coisas”, ao comércio online, à “fast fashion”. “Compram-se
muitas coisas”.São coisas nas quais se
gasta muito dinheiro, que produzem demasiados resíduos e que por vezes
são elas mesmo quase um resíduo, inutilidades que ficam numa gaveta anos
até irem também parar ao lixo, diz.Nestes
anos também não houve uma “evolução significativa” na colocação na rua,
no dia de natal ou no dia seguinte, dos resíduos, esquecendo-se que é
um período de menos recolha, de tempo de Natal também para os
trabalhadores do setor.Susana Fonseca não
vê uma grande evolução nos últimos anos, e para evitar o mesmo discurso
dentro dos próximos 20 anos preconiza uma mudança de sistema.“Se
produzirmos menos resíduos, sendo mais rigorosos nas escolhas, não
temos benefícios diretos. Pagamos pelos resíduos em função do consumo de
água. Enquanto não criarmos um sistema em que as pessoas paguem pelo
que não separaram a situação não se resolve”, explica.E enfatiza que é preciso dar “um passo em frente” e estimular a adesão à separação e reciclagem e “penalizar quem não colabora”.A
especialista defende também que há uma componente estrutural a mudar,
de facilitar a vida à população, “porque gerir os resíduos não é a coisa
mais importante do dia-a-dia das pessoas”.Mas quanto aos últimos 20 anos, confessa-se desalentada: “Andámos a marcar passo”.Com
taxas de separação de resíduos “baixíssimas”, com a necessidade de
separar também os biorresíduos, com metas europeias para os resíduos que
não se cumprem, é preciso mesmo “outra abordagem”, também da parte dos
municípios. Sem dados que indiquem que há
hoje mais separação de resíduos no Natal, com a “embalagem da boneca a
continuar a ser em papel e plástico”, Susana Fonseca apela à consciência
das pessoas. “Pelo menos não coloquem o lixo nas ruas logo a seguir à
noite de Natal”.E como há 18 anos deixa os
mesmos conselhos, que continuam atuais, sobre o aproveitamento dos
embrulhos (as fitas não são recicláveis mas são reutilizáveis), sobre a
gestão dos restos de comida.“Gosto de
acreditar que há mais pessoas a fazer isso, para quem isso faz sentido.
Mas não são suficientes, não são a maioria”, afirma.Em
2024 foram recolhidas em Portugal 5,52 milhões de toneladas de resíduos
urbanos, mais 182,8 mil toneladas do que em 2023, segundo dados
oficiais. Cada habitante produziu em média nesse ano 516,2 quilos de
resíduos, mais 11,6 quilos do que no ano anterior.