Nas Furnas não há turismo a mais mas é preciso disciplinar as zonas mais visitadas
3 de ago. de 2024, 12:07
— Lusa/AO Online
Conhecida
pelas fumarolas que brotam da terra, pelas nascentes de águas termais
amareladas ou pelo cozido confecionado debaixo da terra, a freguesia das
Furnas, no concelho da Povoação, em São Miguel, é um dos locais mais
procurados pelos turistas que visitam a ilha, servindo de barómetro à
atividade turística na região.“Mesmo com
as águas fechadas, isso está assim. Dá para ver, não dá?”, interroga de
forma retórica Maria Monteiro, apontando para a azáfama no centro da
freguesia junto dos restaurantes e dos táxis.A
funcionária de uma loja de lembranças referia-se à proibição de banhos
nas piscinas termais do Parque Terra Nostra e da Poça da Dona Beija por
suspeita de contaminação microbiológica da água, o que também levou ao
encerramento da Caldeira Velha.“Claro que
há muitos turistas que ficam desiludidos, mas não deixam de vir cá só
porque as termas estão fechadas”, prossegue, notando que existem “mais
pessoas do que no ano passado”, apesar de o “poder de compra estar mais
baixo”. Fazendo-se valer do convívio
diário com os turistas, a comerciante afirma que existem muitos
visitantes, “principalmente os que já veem há muitos anos”, que “não
estão a gostar do que veem” porque “não encontram o silêncio”. Por isso, defende, é “preciso turismo”, mas “também são precisos limites”.“Todos
são bem-vindos, mas também queremos que todos desfrutem do que temos. O
que nós tínhamos era a paz. Íamos a algum sítio e conseguíamos
desfrutar da natureza. Cada vez já há menos isso”, lamenta.Um
dos restaurantes mais agitados da freguesia é o Tonys, habituado a
servir entre 500 a 700 refeições por dia. “Tal como o ano passado”, o
espaço “está sempre cheio”, adianta Gualter Carvalho, um dos
responsáveis.“Está ao nível de 2023. Toda a
gente passa por cá. Gente de todas a nacionalidades. Não notamos o
fecho das termas porque temos a casa sempre cheia”, assume.Para o Tonys, o “grande objetivo” é “manter a qualidade” mesmo com as enchentes. Para
a freguesia, o “desafio” passa por encontrar “soluções para o
trânsito”, um “problema antigo” que se “agravou muito” com o aumento do
turismo, considera Gualter Carvalho.“O
trânsito é um grande desafio. Quer para turistas, quer para quem vive
cá. Para quem está à frente das instituições, é uma das coisas que é
preciso mesmo batalhar. Mais do que pensar, têm de encontrar soluções
porque isso tem de ser resolvido”, alerta.No
exterior do restaurante, após terem saboreado as iguarias regionais,
Adam e Simona, naturais da Eslováquia, trocam impressões sobre o roteiro
a seguir. Estavam a pensar ir às termas, mas com o encerramento vão ter
de arranjar uma alternativa.“É uma ilha
linda. A natureza é muito bonita. Estamos um pouco desiludidos porque as
termas estão fechadas. É um aspeto negativo, mas está tudo a correr
bem. Felizmente há muita coisa para fazer”.O
casal escolheu a ilha de São Miguel como destino de férias após terem
ficado “maravilhados” com as imagens que viram nas redes sociais. A
experiência tem sido “ótima”, apesar de existirem “bastantes turistas”,
uma “circunstância previsível nesta altura do ano”.“Notamos é que nos locais mais frequentados há sempre muitos carros e torna-se difícil estacionar”, destaca Adam.Já
na zona das caldeiras, o sabor da afamada “Água Azeda” origina um
intenso debate entre sete pessoas, naturais de Badajoz, em Espanha.“Eu
cá gostei da água. Tenho gostado de tudo, aliás. Não sinto que haja
muita gente. Consegue-se estar nos sítios muito bem. Não há massificação
turística. Preferimos assim”, diz Juan José, que serve de porta-voz do
grupo que vai conhecer três ilhas ao longo de 15 dias nos Açores.Por
sua vez, Jordi, catalão a viver em Maiorca, confessa que esperava uma
“ilha mais selvagem” e com “um bocado menos de turismo”, apesar de
ressalvar que “está a gostar muito”.“Há
zonas onde o turismo já é demais, mas a verdade é que nós enquanto
turistas estamos a contribuir para isso. É normal, mas creio que as
autoridades têm de tentar regular isso. Nós viemos de Maiorca. São ilhas
muito massificadas. Sabemos bem a consequências do turismo”, avisa.Em
certos períodos, regista-se um intenso fluxo em alguns dos pontos mais
visitados das Furnas, o que dificulta a circulação automóvel. Ainda
assim, a comerciante Nélia Linhares, que vende os típicos bolos lêvedos
nas caldeiras, realça que “muita gente não é sinónimo de muita venda”.“Não
acho que tenhamos turismo a mais. Não se pode tirar conclusões com base
num dia ou outro. É mais uma questão de organização, de regular os
carros, o trânsito e algumas zonas com mais gente”, defende.Na
lagoa das Furnas, entre os curiosos que procuram testemunhar como se
cozinham refeições com o calor vulcânico, um dos locais mais concorridos
é a carrinha da família Amaral, sobretudo devido aos gelados e às
bebidas frescas.“O ano passado já tivemos
um acréscimo e este ano continuamos pelo mesmo caminho. Turismo não
falta. O acréscimo parece que é para continuar. Maio e junho eram meses
um pouco fracos, mas agora já são bons. Até setembro o negócio vai bem”,
revela Rui Amaral.As caldeiras não são
suficientes para dar resposta à procura pelos cozidos, mas o empresário
defende que “não existe um excesso de turismo”, lembrando o “impacto
global” do setor na economia. Existem, contudo, “desafios a
ultrapassar”.“O principal desafio é o
estacionamento e fazer com que o dinheiro investido na freguesia tenha
retorno. Podia-se tentar fazer um roteiro a partir de um grande parque
de estacionamento, onde haveria acesso a bicicletas ou autocarros para
tentar regular o turismo”, sugere.Nas
margens da lagoa, Manuel Odifreddi procura interagir com os patos que
por ali passeiam. O italiano conta que descobriu os Açores no ‘Google
Maps’: uma “descoberta agradável” e que até já superou as expectativas.“Foi
por isso que viemos: pelo verde. Pela natureza. Chamou-nos a atenção
ver as ilhas no meio do oceano. Assumo que está a ser melhor do que
esperava. É muito bonito. Não há muitos turistas, esperava que houvesse
muito mais. Oxalá continue assim”.