Nas escolas de acolhimento há novatos e "repetentes" de outros confinamentos
30 de dez. de 2021, 17:53
— Lusa/AO online
A
mãe de Tiago é médica e por isso o menino de 4 anos tem passado a
semana a brincar na Escola Básica de São Vicente de Telheiras, que
voltou a abrir para receber os filhos de trabalhadores essenciais face
ao agravamento da pandemia de covid-19. Hoje, a escola tinha apenas oito crianças do pré-escolar, entre os 3 e os 6 anos. “Os
meninos do 1.º e do 2.º ciclo estiveram cá apenas na segunda-feira”,
contou à Lusa a subdiretora do agrupamento de Telheiras, Ana Rita
Duarte, explicando que ficaram em isolamento profilático depois de terem
surgido dois casos positivos entre os alunos.A
direção teve poucos dias para se preparar para receber as crianças, mas
garante que não foi difícil: “Já tínhamos tudo preparado para a próxima
semana e por isso tivemos apenas de antecipar uma semana. Além disso já
tínhamos a prática dos anos anteriores, porque tem sido sempre esta a
nossa escola de acolhimento”, disse Ana Rita Duarte. A
subdiretora está responsável pela gestão do dia-a-dia. Apesar de terem
definido 23 de dezembro como data-limite para a inscrição das crianças
na escola de acolhimento, continua a receber ‘emails’ de pais. À Lusa,
Ana Rita Duarte garantiu que todos os pedidos têm resposta positiva.“Estamos
aqui para ajudar as pessoas”, afirmou, explicando que a escola está a
receber meninos do agrupamento, de outras escolas e até de colégios,
como o Externato da Luz ou o Colégio Alemão: “Qualquer pai, desde que
seja um trabalhador essencial, pode solicitar a escola de acolhimento”.Na
lista dos meninos que passam o dia na escola há filhos de médicos,
enfermeiros, bombeiros, funcionários dos correios ou de transportes
públicos, entre outras profissões consideradas essenciais. Laura
tem 4 anos e não sabe qual é a profissão dos pais. Sabe apenas que esta
semana voltou para a sua escola com o irmão, mas em vez dos seus
colegas encontrou novos amigos, entre eles o Tiago e a Luz, que apesar
de serem de outras escolas mostravam-se bastante à-vontade. “A
minha mãe é médica no IPO e está a tratar dos doentes”, contou o Tiago,
que esta semana trocou a sua sala do Jardim de Infância pela Escola de
São Vicente. Luz diz que a mãe é psicóloga e por isso regressou esta
semana acompanhada também pelo irmão mais novo. “A
minha escola está fechada e por isso vim para esta”, contou à Lusa a
menina de 5 anos, acrescentando que alguns dos meninos com quem agora
brinca já são conhecidos do ano passado, quando esteve, pela primeira
vez, na escola de acolhimento de Telheiras: "Já conhecia a Laura e o
Bruno do ano passado, quando vim para esta escola".Com
poucos meninos, as auxiliares conhecem as histórias de todos e
reconhecem os que já estiveram nos outros confinamentos, chamando-lhes
carinhosamente “os repetentes”. Há
também os novatos que deixam as funcionárias orgulhosas: “Ontem
apareceu aqui um menino novo e a mãe hoje quando o deixou disse que ele
gostou muito da escola”, contou à Lusa a assistente operacional Florbela
Silva. A
escola abre às 08:00 e o dia é de brincadeira. Só é interrompida para
almoçar. O Agrupamento de Escolas de São Vicente/Telheiras está também a
fornecer esta semana 27 refeições em três estabelecimentos de ensino,
segundo a subdiretora.Na
escola básica de São Vicente, os almoços são servidos à mesa e muitos
meninos ainda contam com a ajuda das auxiliares para comer. Nas outras
duas escolas o sistema é ‘take away’ e destina-se a crianças de famílias
carenciadas.O
fornecimento de refeições é outras das valências das escolas, que já
antes da pandemia se mantinham a funcionar durante as férias para
garantir que as crianças de famílias mais carenciadas tinham acesso a
refeições quentes. O
que se passa na escola de Telheiras é um espelho de 800 escolas do país
que estão abertas esta semana e na próxima - de 3 a 7 de janeiro -
garantindo um espaço para deixar as crianças e oferecendo refeições aos
alunos que mais precisam.A
reabertura de escolas de acolhimento, uma medida que já vigorou nos
períodos de estado de emergência e confinamento, no âmbito da pandemia
de covid-19, vem no seguimento da decisão do Governo de decretar uma
série de medidas de contenção até ao dia 09 de janeiro, nomeadamente o
teletrabalho obrigatório, o encerramento de creches e Ateliês de Tempos
Livres (ATL) e dos bares e discotecas.Portugal
registou hoje 28.659 novas infeções com o coronavírus SARS-CoV-2, um
novo máximo desde o início da pandemia, e mais 16 mortes associadas à
covid-19, indicam números divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS).A
doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado
no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com
variantes identificadas em vários países.Uma
nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral,
mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a
24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países,
sendo dominante em Portugal.