“Não faz sentido” e “não vale a pena” fechar fronteiras na UE
Covid-19
23 de out. de 2020, 11:48
— Lusa/AO Online
Ana Paula Zacarias,
ouvida em comissão parlamentar sobre as conclusões do Conselho Europeu
da semana passada, explicou aos deputados a recomendação adotada pelos
líderes dos 27 que estabelece critérios para eventuais restrições à
circulação no espaço europeu.A questão
marcou a “primeira fase” da pandemia provocada pelo novo coronavírus,
com vários Estados-membros a determinarem a proibição de entrada de
viajantes de outros países europeus considerados de risco com base em
critérios desiguais.Da Cimeira europeia de
15 e 16 de outubro, explicou a secretária de Estado, saiu “finalmente
uma recomendação do Conselho aos Estados-membros estabelecendo critérios
para terem em conta sempre que haja esta possibilidade de impor
restrições à liberdade de circulação”.Trata-se
de uma recomendação, pelo que não tem carácter obrigatório, mas,
frisou, “tem um peso político muito maior em termos da coordenação
existente”.“Os critérios definidos são a
taxa cumulativa das notificações ocorridas nos últimos 14 dias, ou seja,
o número de casos novos identificados por cada 100.000 habitantes nos
últimos 14 dias, a taxa de positividade dos testes de despistagem, ou
seja, a percentagem de testes de despistagem positivos no conjunto de
todos os testes realizados na última semana, e a taxa da despistagem, ou
seja, o número de testes realizados por 100 mil habitantes na última
semana”, disse.Vão ser esses os critérios
usados “para definir as famosas zonas vermelhas, verdes e amarelas, e
também as medidas que sejam consideradas de restrições à livre
circulação, bem como às zonas de risco elevado que têm que cumprir um
período de quarentena”.Ana Paula Zacarias considerou contudo que “nesta segunda fase não faz sentido fechar fronteiras”.“Estamos
todos a ficar pior, […] alguns países declaram mesmo que perderam o
controlo das suas cadeias de contágio. Nestas circunstâncias vale a pena
fechar as fronteiras, não vale a pena, o que temos é que trabalhar
todos em conjunto para melhorar a situação”, sublinhou.A
secretária de Estado apontou a necessidade de “mecanismos de cooperação
que permitam fazer com que haja mais cooperação”, citando exemplos
ocorridos na primeira fase da pandemia como o transporte de doentes de
França ou Itália para tratamento na Alemanha ou o envio de médicos da
Roménia para reforçar a assistência em Espanha ou Itália.“Realmente
acho que os cidadãos europeus olham para a Europa e vão ver a Europa de
uma maneira ou de outra conforme nós conseguirmos responder a esta
matéria”, disse, acrescentando que embora a Saúde seja da competência
dos Estados-membros, a UE tem “uma responsabilidade acrescida” de
coordenação e cooperação.Ana Paula
Zacarias defendeu também como “extremamente importante” a necessidade de
“alicerçar as políticas públicas na ciência” para uma “credibilização
das medidas” de saúde pública, que permita “o estabelecimento de
critérios rigorosos […] aceites por todos”.“Porque
se não for assim, se não for a ciência à frente, virá a desinformação,
virão ideias que não trazem nada de bom para o trabalho que temos que
fazer”, advertiu.