Nações Unidas vão a eleições para vários órgãos sob críticas e desconfianças
16 de jun. de 2020, 10:39
— Lusa/AO Online
A
Assembleia Geral das Nações Unidas escolhe quarta-feira cinco dos 10
membros não-permanentes do Conselho de Segurança, bem como os elementos
do Conselho Económico e Social e o próximo presidente da Assembleia, que
substituirá o nigeriano Tijjani Muhammad-Bande.Num
momento de turbulência, com acusações de imobilismo, ineficácia e
incapacidade de resposta perante a crise sanitária global, as Nações
Unidas renovam alguns dos seus órgãos perante a desconfiança de
observadores e críticas de vários dos seus membros.“Há
um sentimento de que as organizações que foram desenhadas no período
que se seguiu à Segunda Guerra Mundial estão obsoletas e são incapazes
de lidar com os desafios do novo século”, disse à Lusa Júlio Bastos, um
investigador português que está a preparar uma tese de Mestrado sobre a
estratégia de comunicação das Nações Unidas na era digital, na
Universidade de Salamanca.Para este
especialista, estes momentos de renovação, com a escolha de novos
membros para lugares estratégicos, acabam por nada contribuir para a
renovação da organização, na medida em que respondem, na maioria das
vezes, a procuras de equilíbrio de poder geográfico, sujeitas a fortes
constrangimentos.Representando quatro
grupos geográficos, cinco novos membros não-permanentes entram para o
Conselho de Segurança, para um mandato de dois anos, escolhidos por um
corpo de 193 estados membros que apresentarão o seu voto secreto, na
quarta-feira, numa eleição que foi adiada por causa da pandemia de
covid-19.Os candidatos para cada grupo
geográfico são: Índia, pelo grupo da Ásia Pacífico; Quénia e Djibuti,
pelo grupo africano (onde apenas um pode ser escolhido); Canadá, Irlanda
e Noruega, pelo grupo da Europa Ocidental e outros (onde apenas dois
podem ser escolhidos); México, pelo grupo da América Latina e Caraíbas.Estes
países substituem a Bélgica, República Dominicana, África do Sul,
Alemanha e Indonésia, passando a acompanhar o Níger, Tunísia, São
Vicente e Granadinas, Vietname e Estónia.Depois
da retirada da candidatura do Afeganistão, a Índia fica com a sua
vitória assegurada, sendo a única candidata do seu grupo geográfico, tal
como acontece com o México, no grupo da América Latina.Para
o lugar de presidente da Assembleia Geral, que fica em aberto com a
saída do nigeriano Tijjani Muhammad-Bande, a Turquia apresenta a
candidatura de Volkan Bozkir, um diplomata de 70 anos e com uma carreira
de 39 anos.A Turquia apresentou o seu
nome na esperança de uma aprovação inicial unânime, mas vários países
pediram para que houvesse uma votação, que decorrerá também na
quarta-feira.Bozikr foi ministro para os
Assuntos da União Europeia, no Governo turco (2014-16) e deputado no
parlamento, mas foi na carreira diplomática que passou grande parte da
sua vida, tendo passado por vários cargos, incluindo o de vice-cônsul em
Estugarda, na Alemanha, primeiro secretário da embaixada da Turquia em
Bagdade e cônsul em Nova Iorque.Fluente em
inglês e francês, Volkan Bozkir apresenta ainda a Ordem da Estrela da
Roménia e a Ordem de Mérito da República Italiana como “medalhas” para
esta candidatura, que já discutiu com o atual presidente da Assembleia
Geral, em entrevistas preparatórias.Bozkir
apresenta-se com um programa que dá prioridade à “consolidação de
confiança e coesão entre os países membros da ONU”, prometendo apoiar a
linha de estratégia do secretário-geral, António Guterres, sobretudo na
componente de “dar voz aos povos mais vulneráveis”.Em
recentes entrevistas, Bozikr admitiu que a ONU tem pela frente muitos e
difíceis desafios, reconhecendo a necessidade de profundas reformas,
para dar mais respostas mais eficazes, alinhando com as críticas que
recentemente Guterres fez ao atual momento das Nações Unidas.António
Guterres reconheceu este mês que o Conselho de Segurança está perante
desafios de conflitos mundiais que tolhem a sua capacidade para
responder a outros problemas e disse mesmo que a Organização Mundial de
Saúde sentiu fortes problemas na gestão da pandemia de covid-19,
nomeadamente pela sua falta de autoridade junto dos governos dos estados
membros.“Esse reconhecimento por parte de
António Guterres entende-se melhor se nos recordarmos do plano com que o
político português chegou ao lugar cimeiro da organização, prometendo
uma profunda reforma” explica Júlio Bastos, realçando o facto de o
secretário-geral da ONU ser provavelmente a pessoa que mais se sente com
a perceção de falta de eficácia das Nações Unidas.A
Assembleia Geral de quarta-feira vai escolher ainda 18 novos membros
para os 54 lugares do Conselho Económico e Social, para um mandato de
três anos, cumprindo a sua missão de perseguir os objetivos de
desenvolvimento global e preservação do meio ambiente.