Mutações tornam ratos domésticos em Portugal mais resistentes a raticidas
4 de out. de 2023, 16:47
— Lusa
O alerta faz parte do
estudo “Resistência a rodenticidas anticoagulantes desafia esforços do
controlo de pragas em Portugal”, da autoria de Ana Santos, licenciada em
Biologia e mestre em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento.Estudante
de doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Ana
Santos está a desenvolver a tese centrada nas dificuldades de controlo
de pragas de ratazanas e ratinhos domésticos devido à resistência aos
biocidas utilizados. O artigo científico foi agora publicado.Em
declarações à Agência Lusa Ana Santos explicou que as mutações são
normais e espontâneas nos animais, mas acrescentou que "são pequenas
alterações que não mudam a função normal das proteínas mas que podem
alterar alguns mecanismos, neste caso a resistência aos compostos” que
são os rodenticidas anticoagulantes, os venenos para ratos.Assim,
quando é usado o veneno para controlar pragas, há ratos que vão
resistir, e quanto mais se usar o composto mais a população se torna
resistente, porque vão sobreviver os ratos que têm as mutações e morrer
os que as não têm, num mecanismo idêntico ao dos antibióticos e das
bactérias resistentes.Ana Santos disse à Lusa que estas mutações genéticas já eram conhecidas mas não tinham ainda sido estudadas em Portugal. “Não
sabíamos se os ratinhos tinham as mutações”, salientou, explicando que
os estudos mostraram por exemplo que em algumas ilhas dos Açores todos
os animais estudados já eram resistentes aos rodenticidas
anticoagulantes, enquanto na ilha de S. Miguel, das 40 amostras
estudadas só cinco tinham a mutação que lhes conferia a resistência. A
especialista considera que os resultados podem ser preocupantes, porque
a percentagem de indivíduos resistentes é muito elevada, e defende que
se faça um mapeamento do país e com base nele escolher o rodenticida em
função da existência ou não de resistências.A
investigadora sublinha que devem ser utilizadas outras técnicas para
controlar roedores, como a gestão das fontes de comida ou a manutenção
de infraestruturas, com ações como tapar buracos em paredes.O
estudo alerta que deve ser tido em conta também que a elevada
libertação de biocidas no meio ambiente aumenta o risco de contaminação
ambiental associada ao envenenamento involuntário de animais não alvo.No
estudo a investigadora é muito precisa, explicando que determinados
rodenticidas anticoagulantes não são aconselhados para populações de
ratinhos domésticos portadoras de mutações específicas. Tecnicamente,
escreve Ana Santos, o coumatetralil, a bromadiolona e o difenacum não
devem ser usados nos ratos portadores das mutações Vkorc1spr, Y139C ou
L128S. Independentemente dos nomes
técnicos, a especialista frisa que o desconhecimento acerca das
variantes genéticas presentes nas populações de ratinhos domésticos pode
levar à ineficácia no controlo de roedores com consequentes danos
económicos e/ou sanitários.