Municípios nas regiões autónomas mais vulneráveis à pobreza energética
14 de dez. de 2023, 18:17
— Lusa
O
trabalho “Pobreza Energética em Portugal: Uma análise municipal”,
divulgado hoje pela Fundação “la Caixa”, BPI e Nova SBE (School of
Business & Economics), no âmbito da Iniciativa para a Equidade
Social, estuda a capacidade de manter a casa aquecida e a necessidade de
reparações dos alojamentos, e desenvolve um novo indicador de
vulnerabilidade energética municipal com base nos dados do Inquérito às
Condições de Vida e Rendimento (ICOR2021) e dos Censos 2021.O
estudo, da autoria de Bruno P. Carvalho, Miguel Fonseca e Susana
Peralta, em complemento ao relatório anual “Portugal, Balanço Social”,
refere que o IVEM mostra que nas regiões autónomas dos Açores e da
Madeira, no Minho, em Trás-os-Montes e na Beira Alta “a pobreza
energética é mais elevada, com valores superiores a 25%”, enquanto “os
municípios com menor pobreza energética são os do Centro e Alentejo, com
valores do IVEM abaixo de 17%”.“Alandroal
e Borba (no Alentejo) têm simultaneamente menor desigualdade na
distribuição dos rendimentos e menor vulnerabilidade energética”, lê-se
num comunicado dos promotores que cita o sumário executivo do estudo.O
documento acrescenta que, “em sentido contrário, Angra do Heroísmo e
Ponta Delgada (nos Açores) e São Vicente e Porto Santo (na Madeira) têm
maior desigualdade e maior vulnerabilidade energética”.O
estudo propõe um IVEM que estima “a vulnerabilidade energética com uma
granularidade municipal, superior à da permitida pelos dados do ICOR”.De
acordo com a nota, a Tarifa Social da Energia “é mais comum nos
municípios com um valor mais elevado de IVEM (na região Norte), o que
indicia que a política é bem direcionada, mas, ao mesmo tempo, não
permite erradicar a pobreza energética das famílias portuguesas”.O
sumário executivo salienta que, com base nos dados do ICOR 2021, “duas
em cada 10 pessoas não conseguiram manter a casa aquecida e três em cada
10 vivem em casas com necessidades de reparação”.“A
incapacidade para manter a casa aquecida é superior entre quem tem mais
de 65 anos (24,3%), entre as pessoas com nove anos ou menos de
escolaridade (24%) e entre as pessoas desempregadas (23,1%)”, concluíram
os investigadores.Por outro lado, “quase
40% dos inquilinos vivem em edifícios com necessidade de reparações, uma
percentagem 15 pontos percentuais acima da dos proprietários com
empréstimo”.“As regiões autónomas da
Madeira e dos Açores são as que concentram a maior percentagem de
famílias em pobreza energética. No continente, destacam-se o Algarve e o
Norte”, aponta-se no documento, salientando-se que, “em 2021, 30% dos
agregados em Portugal viviam num alojamento sem aquecimento e 36% viviam
num edifício com necessidade de reparações”.A
diferença de pobreza energética entre regiões resulta de diferentes
níveis de rendimento, mas também das condições climatéricas que
determinam as necessidades energéticas das famílias.Em
2021, o país registava 16,4% da população “sem aquecimento” e 27,2% com
“necessidades de reparações”, enquanto o Norte apresentava,
respetivamente, 19,4% e 28,3%, o Algarve 19,0% e 24,6%, no Centro 13,5% e
28,6%, na Área Metropolitana de Lisboa 13,7% e 25,7%, no Alentejo 11,7%
e 24,4%, na Região Autónoma dos Açores 26,7% e 41,5% e na Região
Autónoma da Madeira 28,4% e 40,3%.A
Iniciativa para a Equidade Social visa traçar “um retrato do setor
social em Portugal e desenvolver programas de investigação e capacitação
para apoiar organizações sociais”, notam os promotores.