Municípios não estão a saber captar e gerir a água

23 de out. de 2009, 08:30 — Pedro Nunes Lagarto

Faz sentido utilizar água limpa para regar jardins, encher piscinas e apagar fogos, entre dezenas de outras situações, que sucedem todos os dias? Existem recursos de água natural, renovável em todas as ilhas em quantidade e qualidade suficientes para serem captadas e distribuídas às populações e actividades económicas. Agora, necessariamente que a água deve ser gerida com a máxima parcimónia e tentando evitar as ineficiências. Concorda que poderia existir um melhor aproveitamento das águas que saem das estações de tratamento (ETAR) rumo ao oceano? Pode-se, de facto, utilizar essas águas para a rega de jardins. Já para as piscinas e consumo humano torna-se necessário um nível de purificação e de tratamento muito mais elevado, ou seja, é um processo complicado. De qualquer modo, um melhor aproveitamento das águas residuais pode resolver um ou outro caso, mas não constitui a panaceia para o problema do abastecimento público. Porventura, a solução global reside em medidas integradas? Sim,a gestão da água reside cada vez mais numa gestão integrada de todos os recursos. Nos Açores, os recursos são essencialmente subterrâneos pelo que é preciso haver estudos que indiquem onde estão os recursos e que depois ocorram os investimentos necessários para colmatar as lacunas no abastecimento. Noutras regiões optou-se por se transformar a água do mar em água doce para consumo humano ou irrigação. Esse processo, a Dessalinização, está colocado de parte nos Açores? Pergunto-lhe isto porque estamos rodeados de mar, uma fonte inesgotável? Na minha opinião, essa opção deverá a última a ser tomada nos Açores. Por exemplo, é muito praticada no Médio Oriente, mas constitui um processo com custos de instalação e de operação muito elevados. E que dizer da opção de armazenamento de água? Os cursos de água que temos são geralmente de pequena dimensão e apenas em algumas ilhas correm de forma permanente, portanto, situações que dificultam a opção de armazenamento de água à superfície. Mais uma vez essa possibilidade poderia ser caracterizada e estudada, contudo, repito: temos água subterrânea em quantidade e qualidade. Há que aproveitá-la com maior eficiência e com um custo mais baixo. Então se temos esses recursos, porque motivo falta água em algumas ilhas... Porque os recursos não estão a ser devidamente captados e geridos. Existem, estão quantificados, têm qualidade, faz falta é que cada entidade gestora - os municípios - tomem as devidas medidas e levam a água às populações. Repare: no Plano Regional da Água estima-se perdas de água muito elevadas, entre 30 a 40 por cento. Se as redes de abastecimento forem reforçadas e modernizadas podemos reduzir as perdas e assim contribuir para resolver parte do problema de abastecimento às populações. Dou-lhe um exemplo: o caso da falta de água na ilha Terceira. Depois de tudo o que se disse, um parecer técnico recomendou que a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo abrisse novos furos de captação. Foi o que foi feito e, afinal, havia água. Faltava era fazer os necessários investimentos. A modernização das redes implicam custos muito elevados e os municípios açorianos, como os portugueses em geral, não estão propriamente "ricos"... O Governo Regional tem um estudo integrado do abastecimento de água nos Açores onde se discrimina concelho a concelho as melhores opções para a captação da água. O trabalho de casa está feito. Falta o financiamento. Os municípios devem ter a humildade de perceber se têm capacidade financeira per si, se têm a possibilidade de obter comparticipação comunitária (União Europeia), e caso negativo, devem bater à porta do Governo Regional para tentar um certo grau de compromisso. Temos água, sabemos o que precisamos para captá-la, em suma, falta "apenas" o financiamento e vontade política? A modernização das redes tem que ser feita senão estaremos sempre a apagar fogos em vez de resolver o problema de raiz.