Municípios exigem clarificação da forma de financiamento da descentralização
8 de jan. de 2019, 17:17
— Lusa/AO Online
O Governo e os
partidos representados na Assembleia da República “têm de clarificar,
rapidamente, como será garantido o financiamento da descentralização,
isto é, como serão transferidos os recursos financeiros às autarquias
locais e às entidades intermunicipais para a execução de novas
competências”, disse em Coimbra, o presidente da ANMP, Manuel
Machado.Essa
clarificação tem de ser feita “antes da entrada em vigor dos
decretos-lei setoriais [da descentralização] em falta”, sublinhou Manuel
Machado, que falava aos jornalistas, na sede da ANMP, em Coimbra,
depois de ter participado numa reunião do Conselho Diretivo da
Associação.“Neste
momento, em que a maioria dos diplomas setoriais” da descentralização
administrativa “já estão aprovados”, a questão do respetivo
financiamento “suscita a preocupação da ANMP”, pois “a Assembleia da
República reprovou, no âmbito da Lei do Orçamento do Estado para o
corrente ano de 2019, a possibilidade de constituição do Fundo de
Financiamento da Descentralização (FFD)”, explicou Manuel Machado.“Na
consensualização dos decretos-lei setoriais”, a ANMP “determinou o
estabelecimento de determinadas garantias relativas ao desenvolvimento
deste processo de descentralização”, para que ele possa decorrer com “o
máximo rigor, previsibilidade, responsabilidade e universalidade”,
referiu Manuel Machado, destacando que foi prevista, designadamente, a
alteração da Lei das Finanças Locais (já publicada) e a criação do FFD,
para financiar as competências a transferir.Mas
a Assembleia da República rejeitou as normas relativas à dotação do
FDD, “não havendo, no momento, a possibilidade de serem efetuadas
alterações orçamentais destinadas ao seu reforço, nem estando
determinado qual o procedimento legal a seguir para o efeito”, concluiu o
presidente da ANMP, que também é presidente da Câmara de Coimbra.No
âmbito do processo de descentralização administrativa, já foram
publicados, em Diário da República, 11 decretos-lei setoriais: proteção
civil/bombeiros, estacionamento público, promoção turística, projetos
financiados por fundos europeus de captação de investimentos, praias,
habitação, vias de comunicação (estradas), património imobiliário
público, justiça, estruturas de atendimento ao cidadão e modalidades
afins de jogos de fortuna e azar.Em
relação a seis daqueles diplomas (praias, modalidades afins de jogos de
fortuna e azar, justiça, proteção civil/bombeiros, património
imobiliário público e estacionamento público) a transferência de
competências tem caráter universal.Quanto
às vias de comunicação, a transferência de competências tem caráter
universal relativamente à gestão dos troços de estrada e dos
equipamentos e infraestruturas neles integradas, e caráter não universal
em relação à manutenção, conservação e reparação das estradas, que
depende do acordo de cada município.No
setor da habitação, tem caráter universal a gestão de programas de
apoio ao arrendamento urbano e à reabilitação urbana (mas ainda
dependente de legislação que defina os termos em que aquela gestão é
exercida pelos municípios), enquanto a transferência de propriedade e
gestão de imóveis é remetida para acordos expressos com os respetivos
municípios.Nas
áreas da promoção turística, da justiça, dos projetos financiados por
fundos europeus de captação de investimento e da proteção
civil/bombeiros, “o exercício das competências pelas entidades
intermunicipais depende de acordo prévio de todos os municípios” da
respetiva entidade, recordou Manuel Machado.O
Governo, que ainda não aprovou o decreto-lei setorial relacionado com
as freguesias, já terá aprovado alguns outros diplomas, que foram ou
serão remetidos ao Presidente da República, para posterior publicação.