Mulheres detidas em rede de imigração ilegal inscreveram 10.000 pessoas no SNS em ano e meio
Hoje 18:02
— Lusa/AO Online
“As
senhoras recebiam a informação das pessoas que tinham de inscrever, sem
preencher os critérios [como o comprovativo de morada] e eram inscritas
em massa. Estamos a falar de um universo enorme, conseguimos perceber
que terão inscrito, num ano e meio, cerca de 10.000 pessoas”, disse à
agência Lusa fonte da Diretoria do Centro da PJ.Ainda
segundo a mesma fonte, ligada à investigação da operação “Gambérria” -
que levou ao desmantelamento de um grupo criminoso organizado suspeito
da prática reiterada de crimes de auxílio à imigração ilegal - quase 500
pessoas deram a mesma morada numa rua de Lisboa.A
mesma fonte indicou ainda que as inscrições fraudulentas no SNS,
reveladas pela investigação policial, não foram detetadas pelos sistemas
do ministério da Saúde, considerando que essa fase, a atribuição do
número nacional de utente, ocorre no final do processo de legalização, e
“é das mais difíceis, a cereja no topo do bolo, entre aspas”.Questionada
como é que as duas mulheres, funcionárias públicas de 40 e 54 anos,
terão sido recrutadas pelo grupo criminoso, a fonte da Polícia
Judiciária enfatizou que “quem está por detrás disto é uma organização
tentacular, que tem pessoas de várias nacionalidades, não está
concentrada numa só pessoa”.“O objetivo é a
legalização dos migrantes. O imigrante que quer viajar para a Europa
paga um pacote de serviços, contacta com estes indivíduos e estes,
depois, têm várias ramificações, em que conseguem arranjar toda a
documentação necessária, para instruir o processo de regularização em
território nacional”, explicou.“Estas
senhoras terão sido recrutadas por uma pessoa que pertence à
organização, a partir daí foi-lhes oferecido algumas vantagens
financeiras pela inscrição destas pessoas. (…) Os imigrantes podem-se
regularizar e é desejável, em termos humanistas é isso que se pretende, o
problema é quando essas inscrições são feitas de forma irregular”,
argumentou.A fonte da PJ adiantou ainda
que a investigação, denominada operação “Gambérria”, iniciada em
setembro de 2023, está na sua fase final e “atingiu os objetivos que
pretendia”.“Atingiu as várias
ramificações, que fomos identificando ao longo do tempo, com um trabalho
muito meticuloso, tentámos estancá-las e acho que, neste momento, já o
conseguimos fazer”, alegou.Nas três fases
da operação já realizadas, a primeira das quais em maio e a última hoje
anunciada, foram detidas um total de 16 pessoas (entre as quais sete
empresários, uma advogada e uma funcionária da Direção-Geral dos
Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas do ministério dos
Negócios Estrangeiros), tendo sido constituídas arguidas outras 26
pessoas.A fonte da diretoria do Centro da
PJ disse ainda, sem especificar números, que foi apreendido muito
dinheiro, imóveis e viaturas e detetados movimentos bancários de largos
milhões de euros.As duas funcionárias da
unidade de saúde familiar deverão ser ouvidas por um juiz no Tribunal
Central de Instrução Criminal, em Lisboa, entre hoje e quinta-feira, dia
em que deverão ser conhecidas as medidas de coação.