MP recorre das medidas de coação e separa inquérito em três
Operação Influencer
22 de dez. de 2023, 08:40
— Lusa/AO Online
“O Ministério
Público, por não concordar com o despacho do juiz de Instrução Criminal
que aplicou as medidas de coação a cinco arguidos, do mesmo interpôs
recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa, na passada sexta-feira”,
adiantou a Procuradoria-Geral da República (PGR) em comunicado.Segundo
a PGR, em relação ao inquérito da Operação Influencer, tutelado pelo
Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), foi também
“decidido proceder à separação de processos, constituindo-se três
inquéritos distintos e afetando-se equipas de magistrados a cada um
desses inquéritos”.A PGR precisa que um
dos inquéritos investiga factos relacionados com o projeto de construção
de um ‘Data Center’ desenvolvido na Zona Industrial e Logística de
Sines pela sociedade ‘Start Campus’ e está a cargo de quatro
magistrados.No âmbito deste inquérito
foram detidas cinco pessoas, entre as quais Vítor Escária, chefe de
gabinete do primeiro-ministro, e Lacerda Machado, consultor e melhor
amigo de António Costa, tendo sido constituídos nove arguidos no total,
entre os quais o ex-ministro das infraestruturas João Galamba e a
empresa ‘Start Campus’.Num segundo
inquérito está em investigação “matéria respeitante às concessões de
exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso
(Boticas), encontrando-se este a cargo de três magistrados”.“Um
terceiro inquérito investiga factos relativos ao projeto de central de
produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por
consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de
Interesse Comum Europeu (IPCEI) e está a cargo de dois magistrados”,
acrescenta o comunicado.A PGR refere que
“foi adequado o volume de serviço de cada um dos magistrados, de modo a
garantir a melhor e mais eficiente resposta”.Esclarece
também que, apesar de cada um dos inquéritos corresponder a matéria que
pode ser autonomizada, “o trabalho destas equipas desenvolver-se-á de
forma articulada face à existência de aspetos entre si interligados”.Determina
ainda que o trabalho dos magistrados será acompanhado pelo diretor do
DCIAP, “a quem os magistrados titulares devem dar conhecimento prévio
das decisões significativas tomadas nos inquéritos”.Esta
investigação tornou-se pública com a operação realizada em 07 de
novembro pelo MP, que envolveu 42 buscas e levou à detenção de cinco
pessoas: Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado, os administradores da
empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o presidente
da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas.No
total, há nove arguidos no processo, incluindo o agora ex-ministro das
Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do
Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado, antigo secretário de Estado da
Justiça e ex-porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start
Campus. O juiz de instrução criminal Nuno
Dias Costa considerou Diogo Lacerda Machado (consultor e amigo do
primeiro-ministro) fortemente indiciado por tráfico de influência e
sujeitou-o a prestar uma caução de 150 mil euros e a não se ausentar
para o estrangeiro, devendo entregar o respetivo passaporte.Já
quanto a Vítor Escária (chefe de gabinete de António Costa demitido na
sequência da investigação) foram validados fortes indícios do crime de
tráfico de influência, ficando proibido de se ausentar para o
estrangeiro e obrigado a entregar o passaporte.O
autarca Nuno Mascarenhas e os administradores Rui Oliveira Neves e
Afonso Salema, da Start Campus, ficaram sujeitos unicamente a Termo de
Identidade e Residência (TIR), tendo a empresa ficado obrigada a prestar
caução de 600 mil euros.Para o autarca
não foram validados indícios de quaisquer crimes, enquanto os dois
administradores estão indiciados por tráfico de influência e oferta
indevida de vantagem.O juiz não validou os indícios apontados pelo MP da prática de corrupção e prevaricação que recaíam sobre os arguidos.O
primeiro-ministro, António Costa, que surgiu associado a este caso, foi
alvo da abertura de um inquérito no MP junto do Supremo Tribunal de
Justiça, situação que o levou a pedir a demissão, tendo o Presidente da
República marcado eleições antecipadas para 10 de março de 2024.