MP diz que Salgado “logrou apropriar-se do património de terceiros”
BES/GES
15 de out. de 2024, 12:59
— Lusa/AO Online
Nas
exposições introdutórias realizadas na primeira sessão do julgamento do
processo BES/GES, no Juízo Central Criminal de Lisboa, a procuradora
recordou apenas alguns factos que constavam da acusação de mais de 4.000
páginas proferida em 2020, face à limitação de 15 minutos para fazer a
sua exposição, assumindo que o julgamento se irá prolongar “por tempo
significativo”.“Pelo menos desde 2008
houve um constante financiamento da área não financeira do GES pelos
clientes. Foram suportados pelas constantes emissões de dívida e
consequente colocação junto de clientes das instituições financeiras da
Espírito Santo Financial Group (ESFG). Tais propósitos foram conseguidos
desde 2008 com condutas (…) a fim de iludir clientes e investidores”,
referiu a magistrada do MP.Para a equipa
de procuradores presente no julgamento, o objetivo é provar “que o
governo do GES foi exercido de forma autocrática por Ricardo Salgado” e
que o ex-banqueiro, “com o objetivo de suportar a área não financeira,
poder distribuir liquidez como entendesse e constituir posições
acionistas, logrou apropriar-se de património de terceiros”.Lembrando
que a “pronúncia é muito extensa, com jurisdições diversas e que a
forma como os factos foram executados é, sem dúvida, complexa”, a
procuradora salientou que Ricardo Salgado deu ordens a “um grupo
restrito de pessoas, hoje aqui arguidas”, para que o GES se apresentasse
imune em termos financeiros, apesar de a holding internacional do grupo
(ESI) estar em situação de insolvência desde 2009.“Todo
o programa de reestruturação do GES apresentado aos mercados assentava
em pés de barro. Só em julho de 2014, segundo o levantamento feito após a
saída de Ricardo Salgado, é que a administração tomou conhecimento das
perdas históricas. A resolução do BES acompanhou o processo que já
estava em marcha e a queda em dominó”, resumiu, acabando pouco depois as
suas alegações para dar palavra aos primeiros assistentes processuais. O
antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do
caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente
praticados entre 2009 e 2014.Entre os
crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção
ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade,
um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete
de falsificação de documentos.Além de
Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos,
nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel
Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida
Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne
Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as
sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.