MP arquiva inquérito a alegada fraude na entrega de donativos
Pedrógão Grande
6 de mar. de 2019, 16:20
— Lusa/AO Online
O processo foi arquivado “por inexistência de
indícios de crime”, afirma em comunicado o município de Pedrógão Grande,
no distrito de Leiria, presidido por Valdemar Alves, reeleito pelo PS
em outubro de 2017, após ter cumprido um primeiro mandato pelo PSD.“A
autarquia e o seu presidente não esperavam outro resultado, face à
transparência e lisura que sempre foram a marca dos seus procedimentos”,
refere a nota.Valdemar Alves e a Câmara
Municipal “nunca deixaram de confiar na atuação do MP, que se deteve no
rigor dos factos e se manteve imune às campanhas persecutórias que lhes
estão a ser movidas, com puras motivações políticas e cegamente
indiferentes às consequências para o bom nome dos pedroguenses e para a
generosidade dos cidadãos”, acrescenta. O
MP arquivou o inquérito num despacho datado de 26 de fevereiro e,
sublinha a autarquia, “não resultou demonstrado o desvio de qualquer
verba doada, fosse por parte da autarquia ou por outrem, pois todos os
cheques recebidos foram depositados em conta, o mesmo sucedendo com os
donativos em dinheiro confirmados”.A
Procuradoria da República da Comarca de Coimbra “concluiu também que os
montantes depositados na conta aberta junto do BPI, com a designação
'Município de Pedrógão Grande – Incêndios 2017', se mantêm intocados”.O
montante de diversos donativos monetários depositados nesta conta ronda
os 347 mil euros, incluindo 2.600 euros doados pela Ordem dos Médicos
Veterinários com “expressa menção” de serem aplicados na compra de
animais vivos.Com essa verba, a única da conta usada até ao momento, foi possível pagar 52 animais que foram entregues a 21 pessoas.“Da
mesma forma, não se confirmaram as suspeitas de desvios de bens
materiais, designadamente os enviados por uma imobiliária, apurando-se
que afinal não se tratou de 19 camiões, mas apenas de um, e que os
materiais destinados à Câmara Municipal de Pedrógão Grande, com vista a
equipar as casas em reconstrução, se encontram em armazém”, sublinha a
nota, que reproduz o essencial do despacho do MP, a que a agência Lusa
teve igualmente acesso.O MP tinha aberto o
inquérito na sequência de uma notícia publicada pelo semanário
Expresso, em 28 de julho de 2018, “levantando a suspeita de desvio de
donativos, em dinheiro e em bens materiais, efetuados na sequência do
incêndio de 17 de junho de 2017”, que atingiu sobretudo Pedrógão Grande,
Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, além de outros municípios da
região Centro.Caso se confirmassem, tais
factos “poderiam integrar em abstrato a prática, entre outros, de crime
de peculato”, segundo o despacho de arquivamento.A
investigação permitiu verificar que “todos os cheques recebidos foram
depositados em conta” pela Câmara Municipal, “o mesmo sucedendo com os
donativos em dinheiro confirmados”, esclarece a Procuradoria da
República.“Não resultaram confirmados quaisquer atos de desvio de donativos”, sublinha.Já
quanto à não utilização, até ao momento, das verbas depositadas, “a
mesma não constitui ilícito criminal nem é, nesta sede, sindicável”,
adianta.O Ministério Público solicita ao
autarca Valdemar Alves que, no prazo de três meses, informe os autos “do
destino que vier a ser dado aos donativos depositados em conta
bancária, juntando documentos comprovativos”.O
grande incêndio que eclodiu em Pedrógão Grande, junto à povoação de
Escalos Fundeiros, em 17 de junho de 2017, originou 66 mortos e mais de
250 feridos, além de avultados prejuízos materiais e ambientais,
designadamente na agricultura, floresta, indústria, habitação e
equipamentos públicos deste e de outros concelhos.