Morreu o autor argentino Quino, criador de Mafalda
30 de set. de 2020, 17:31
— Lusa/AO online
De
acordo com o jornal argentino Clarín, Quino morreu na sequência de um
acidente vascular cerebral que sofreu na semana passada.Filho
de espanhóis, nascido em Mendoza, em 1932, Joaquín Salvador Lavado,
conhecido como Quino, desenhou e publicou vários livros de desenho
gráfico para um público mais adulto, nos quais predomina um humor
corrosivo e negro sobre a realidade social e política.Ficou
célebre, porém, por uma personagem que se tornou numa das mais
improváveis comentadoras políticas da atualidade, Mafalda, uma menina
que detestava sopa, adorava os Beatles e tinha monólogos preocupados e
existencialistas, em frente a um globo terrestre.Quino
imaginou Mafalda para um anúncio publicitário a uma marca de
eletrodomésticos, para o qual lhe pediram que desenhasse a história de
uma família típica da classe média.A banda
desenhada não chegou a ser publicada, mas Quino recuperou a personagem
Mafalda quando o convidaram para publicar no Primera Plana, na altura um
jornal que procurava fazer uma reflexão crítica da atualidade argentina
e internacional. Foi a 29 de setembro de 1964 que Mafalda surgiu.Das
tiras de Quino saíam comentários sobre a ordem do mundo, a luta de
classes, o capitalismo e o comunismo, mas também, de forma mais subtil,
sobre a situação política e social argentina. Quino
deixou de desenhar Mafalda em 1973, admitindo ter ficado extenuado, e
continuou a desenhar e a publicar outros desenhos de humor, compilados
em diversos álbuns, mas foi a criança contestatária que mais fez
espalhar o seu nome e o seu trabalho pelo mundo.Em
2014, o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, em
França, e o AmadoraBD dedicaram exposições a Quino, a propósito dos 50
anos da criação de Mafalda.O diário El
País descreve-o como "o cartunista mais internacional e mais traduzido
em língua espanhola, e talvez o mais cativante", com centenas de tiras
publicadas na imprensa de todo o mundo, e recorda que, em 2014, Quino
foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e
Humanidades.Hoje, o jornal espanhol
recorda ainda a resposta de Quino quando lhe perguntaram como seria
Mafalda, na atualidade. Segundo o El País, Quino contrapôs que
provavelmente essa "menina sábia" estaria morta, porque seria um dos
desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983).Em
2016, numa entrevista à agência Efe, por ocasião da Feira do Livro de
Buenos Aires, Quino afirmava que o mundo atual seria para a personagem
Mafalda "um desastre e uma vergonha"."Olhando
as coisas que fiz todos estes anos, percebo que digo sempre as mesmas
coisas e que continuam atuais. É terrível… não?", referiu Quino, a
propósito dos seus temas de sempre: "A morte, a velhice, os médicos e
outras coisas", como as injustiças sociais, a pobreza.Profundamente
tímido e reservado, Quino reconheceu na mesma entrevista que gostaria
de ser recordado como "alguém que fez pensar as pessoas sobre as coisas
que acontecem".