Moreira da Silva diz que se vive em Portugal “contexto de superficialidade e sonambulismo"
3 de fev. de 2023, 12:28
— Lusa/AO Online
O fundador da
Plataforma para o Crescimento Sustentável e antigo vice-presidente do
PSD falava na primeira de um ciclo de conferências, sob o lema
Alternativa Sustentável, dedicada ao tema “Proteger a saúde,
combater as desigualdades e enfrentar a crise demográfica”.“Estamos
a viver um contexto único: a maior crise dos últimos anos, uma
policrise, com a pandemia, a guerra e a inflação”, apontou, considerando
que este cenário é agravado pelo “imobilismo a que se assiste em
Portugal no debate das políticas públicas”.“Não
bastava que o contexto internacional fosse tão exigente, como estamos
num contexto de superficialidade, passa culpas, um verdadeiro
sonambulismo no meio da maior crise de várias gerações”, lamentou,
considerando que a plataforma que fundou em 2011 tinha de avançar com
este projeto.No final de quase três horas
de conferência e debate, e questionado sobre qual o objetivo final do
trabalho desta plataforma, o ex-candidato à liderança do PSD nas
anteriores diretas em maio do ano passado respondeu, com ironia, que
“deveria estar a fazer uma travessia no deserto”.“Porque
decidimos reorganizar-nos? Porque estamos numa situação limite, a um
milímetro de não reconhecermos no sistema político”, disse, alertando
que “outros países já passaram por isso e um dia acordaram e viviam num
país que já não reconheciam” e com forças radicais no poder.“Se
isso aconteceu noutros sítios, pode acontecer em Portugal”, alertou
Moreira da Silva, que tem defendido, em várias ocasiões, que o PSD
deveria ser claro em recusar quaisquer entendimentos futuros com o
partido Chega.Sobre o resultado do trabalho desta plataforma, Moreira da Silva quis desligá-lo de qualquer conotação partidária.“Queremos
oferecer ao país, seja aos órgãos de soberania, seja aos partidos, um
roteiro, um menu de politicas públicas que poderão ou não adotar. Somos
um movimento de reflexão sobre politicas públicas e vamos fazer o nosso
papel: pensar como Portugal pode estar no topo de uma série de
indicadores no espaço de uma década”, explicou.Numa
das áreas hoje em debate, a segurança social, Moreira da Silva defendeu
que se “as pensões a pagamento e os direitos constituídos são sagrados,
tão sagradas são as garantias das próximas gerações terem direito à sua
pensão”, alertando que, se nada for feito, quem se reformar a partir de
2040 terá uma pensão 50% inferior ao salário.Entre
as propostas enunciadas pela plataforma, o antigo dirigente do PSD
destacou “a articulação entre o sistema fiscal e da segurança social”.“Não
pode deixar de haver ponderação de que as receitas fiscais, de IRC,
nomeadamente de empresas com mais rendimentos com menos fator trabalho,
possam servir para financiar o sistema de segurança social. É altura de
fazermos este tipo de discussão, não podemos pressupor que vai haver uma
dívida para várias gerações”, defendeu.Entre
os oradores, além de Moreira da Silva, estiveram hoje o ex-ministro da
Economia Augusto Mateus, o professor universitário e antigo coordenador
do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD para a área do trabalho e
da segurança social Jorge Bravo, a doutorada em Sociologia da Família
Dália Costa ou o médico e ex-secretário de Estado Adjunto da Saúde (e
ministro do setor no curto XX Governo Constitucional liderado por Passos
Coelho) Fernando Leal da Costa.Na plateia
de poucas dezenas de pessoas, quase não estiveram figuras do PSD, à
exceção do deputado António Proa e dos antigos parlamentares Eduardo
Teixeira e Nilza Sena. As conferências
terão um caráter mensal, espalhadas pelo país, e cada uma estará assente
num documento de trabalho aberto a contributos, dando origem no final a
um relatório global.