Moradores do Beco Jardim António Borges denunciam “irregularidades”
22 de abr. de 2025, 09:36
— Rafael Dutra
Um conjunto de moradores do Beco Jardim António Borges, em Ponta
Delgada, apresentou uma carta aberta exigindo a reposição do acesso a
este local e denunciou um conjunto de situações que os estão a afetar de
“forma grave e continua”.“A presente carta tem por objetivo
denunciar publicamente um conjunto de irregularidades urbanísticas,
omissões administrativas e a usurpação de um acesso público
historicamente consolidado, que vêm afetando de forma grave e continuada
os moradores do Beco Jardim António Borges, em Ponta Delgada”, lê-se no
documento, a que o Açoriano Oriental teve acesso.Recorde-se que os
motivos para esta denúncia remontam a 15 de maio de 2015, data em que
foi enviada aos moradores uma carta a dar conhecimento do encerramento
dos acessos à propriedade onde se localiza a Ermida da Trindade. “Este
encerramento, justificado por alegadas razões de segurança, eliminou um
acesso pedonal e viário com mais de 40 anos de uso público pacífico,
contínuo e não contestado”, indicam os moradores que, dias depois,
entregaram um abaixo-assinado à autarquia de Ponta Delgada.“A
autarquia comprometeu-se, então, a criar um acesso alternativo. Contudo,
dez anos depois, essa promessa permanece por cumprir e a situação
agravou-se substancialmente”, sustentam.Segundo recordam os
moradores, o encerramento deste acesso culminou na remoção de um
corredor de emergência, e resultou “no aumento da insegurança urbana,
tornando o local propício a atividades ilícitas devido à redução do
movimento”, frisam.Para além disso, assinalam que esta propriedade
foi vendida com um projeto urbanístico associado, cuja execução, o que,
na sua perspetiva, “levanta fortes dúvidas quanto à sua legalidade e
conformidade com o licenciamento aprovado”.Por este motivo, dizem
ter solicitado, por inúmeras vezes, pedidos de informação e reunião com
os responsáveis do pelouro do urbanismo da autarquia de Ponta Delgada ao
longo dos últimos anos, sendo que as tentativas de consulta ao projeto
“foram reiteradamente dificultadas e apenas permitidas, sob pressão, em
setembro de 2024”.Da análise técnica feita ao projeto, resultaram
“constatações alarmantes”, prosseguem os moradores, referindo-se, por
exemplo, à implantação atual do edifício que “não respeita a planta
aprovada”, e o afastamento da construção face ao limite nascente, “o
que resultou na demolição parcial da Ermida da Trindade — um bem
patrimonial com relevância histórica e cultural”.Por este motivo, os
moradores deste beco exigem a reposição do acesso público a norte, na
sua plenitude, bem como a abertura de um processo de usucapião por parte
da autarquia, “reconhecendo o uso público continuado do caminho agora
vedado”.Outras reivindicações dos moradores são relativas à
divulgação imediata e completa do processo de licenciamento da obra em
curso, incluindo plantas de implantação e pareceres técnicos, mas também
a “fiscalização rigorosa da conformidade da obra com o projeto
aprovado, com comunicação pública das conclusões”.Os moradores
defendem ainda a verificação da legalidade das movimentações de terras
atualmente em curso no terreno a poente do beco, com publicação do
respetivo licenciamento (ou da sua ausência), e também a “adoção de
medidas disciplinares e corretivas, caso se confirmem infrações
urbanísticas ou omissões por parte dos serviços municipais”.Por fim,
salientam que esta situação urge a atuação “célere, rigorosa e
transparente por parte das entidades fiscalizadoras e decisoras”.