Moradores do bairro de Santa Rita satisfeitos com proposta de legalização do município da Praia da Vitória
24 de set. de 2019, 16:48
— Lusa/AO Online
“Isto
motiva-nos a acreditar que finalmente se está a chegar ao fim do
processo. É claro que faltam algumas etapas, o processo ainda vai ser
demorado, mas isto dá um conforto às pessoas de que realmente vai haver
um fim neste processo”, adiantou, em declarações à Lusa, Lucas Almeida,
presidente da comissão de moradores, referindo-se ao regulamento para a
venda dos terrenos, aprovado em reunião camarária. Em
causa está um bairro construído na década de 1950, em terrenos
alugados, para acolher militares norte-americanos colocados na Base das
Lajes, na Praia da Vitória, numa altura em que o parque habitacional da
ilha Terceira tinha uma capacidade limitada.Na
década de 1990, as casas foram vendidas a portugueses, mas os terrenos
nunca chegaram a ser comprados e o diferendo entre moradores e
proprietários arrastou-se durante anos nos tribunais.Desde
2003, que a maioria dos moradores (cerca de 100 famílias) deixou de
pagar rendas, segundo dizem, por recomendação da câmara municipal, o que
motivou vários despejos, um em 2015 e outros 13 em 2018.Em
setembro do ano passado, a Câmara Municipal da Praia da Vitória chegou a
acordo com os proprietários para adquirir os terrenos por quatro
milhões de euros, em quatro anos, vendendo-os posteriormente aos
moradores, e as 13 famílias despejadas regressaram às habitações.Na
semana passada, o município aprovou, em reunião camarária, um
regulamento para a venda dos lotes aos moradores, por 24 euros por metro
quadrado, que prevê planos de pagamento por períodos até 10 anos para
as famílias mais carenciadas que não consigam recorrer à banca.“Acho
que o regulamento é bastante abrangente, para garantir ao máximo que os
moradores possam adquirir a sua propriedade sem excluir ninguém”,
salientou Lucas Almeida, defendendo que o preço proposto pelo município –
resultante da avaliação que suportou a aquisição dos terrenos totais
(habitações e arruamentos) – é “justo”.Segundo
o presidente da comissão de moradores, criada em 2018 aquando dos
despejos, nem sempre foi fácil acreditar num desfecho positivo, mas,
depois de “quase duas décadas” de luta, os moradores estão confiantes de
que este é um “momento histórico”.“Há
sempre uma pequena parte em que se acredita que se vai conseguir, mas a
partir do momento em que se vê famílias a serem despejadas torna-se um
bocadinho difícil de acreditar. Começa-se a acreditar que vai ser o
futuro de toda a gente. Felizmente, não foi. As famílias que foram
despejadas tiveram de passar por esse processo. Foi terrível, mas
felizmente regressaram”, salientou.Délia
Silva mora no bairro “americano” de Santa Rita há 23 anos. Não chegou a
ser despejada, mas foi a tribunal e esteve durante meses a “vigiar a
caixa do correio” com medo de ter de abandonar a casa. “Houve
alturas bastante difíceis, com muitas lágrimas, mas no fundo sempre
achei que era possível”, revelou, acrescentando que sempre teve intenção
de adquirir o terreno.Também ela considera que o preço pedido pelo município é justo, “em comparação com rumores de outros preços que se ouviram”. O
município da Praia da Vitória lançou também na semana passada a
primeira pedra da obra de construção da nova rede de abastecimento de
água e do saneamento básico do bairro de Santa Rita, até agora
abastecido pela rede da Força Aérea norte-americana. A
obra, orçada em 1,9 milhões de euros, financiada por fundos
comunitários e pelo Governo da República, que terá um prazo de execução
de 450 dias, prevê ainda o arranjo das vias e a criação de espaços
verdes e de estacionamento.Como os
arruamentos também foram construídos em terrenos alugados, o município
não podia intervir e as estradas foram-se degradando com o passar dos
anos. O mesmo aconteceu com a rede de abastecimento de água, construída na década de 1950. “São
canos muito velhos, com muitos anos, canos de ferro fundido, cheios de
impurezas. Na minha casa tivemos de renovar os canos todos, mas a
tubagem no exterior continua a ser a tubagem velha e é claro que traz
problemas mesmo até na própria pressão da água”, revelou Délia Silva.O
facto de a rede não ser municipal colocava também dificuldades aos
moradores cada vez que se deparavam com uma avaria, porque “era
responsabilidade de todos e de ninguém”.“De vez em quando rebenta um cano e ninguém sabe a quem é que tem de telefonar para arranjar o cano”, frisou.