Moody's antecipa que governos têm de voltar a apoiar mais a economia
Covid-19
9 de nov. de 2020, 18:06
— Lusa/AO Online
"À medida que
o choque do coronavírus se estende até 2021, esperamos um foco
crescente na capacidade orçamental e na vontade política dos governos de
todo o mundo em fornecer mais apoio a famílias, empresas e instituições
financeiras. Provavelmente, os governos vão novamente intervir no caso
de outro grande golpe para a economia, como uma segunda onda de infeções
por coronavírus acompanhada por confinamentos", considera a Moody's
numa análise divulgada.E avisa que
uma retirada prematura dos apoios, embora permitisse menos défices
orçamentais, terá efeitos graves na economia, incluindo volatilidade
financeira.Contudo, sobretudo em países
emergentes, a capacidade de os governos apoiarem a economia pode ser
agora mais difícil, admite a agência de 'rating'.Na
política monetária, estima, os principais bancos centrais continuarão a
usar ferramentas não convencionais e a apoiar a liquidez, mantendo as
taxas de juros baixas até que o crescimento económico se recupere, as
taxas de desemprego baixem e a inflação atinja as metas estabelecidas.Sobre
o sistema bancário, considera que depois das reestruturações e do
reforço da regulamentação nos últimos anos, está melhor posicionado para
fazer face à atual crise do que esteve na anterior, resistindo ao
choque económico, à baixa de lucros e ao aumento do crédito malparado. Já os bancos maiores estão melhor preparados do que os mais pequenos.A
Moody's considera que a crise pandémica vai continuar a beneficiar o
comércio digital e outros serviços digitais, com o acelerar de hábitos
dos consumidores que proporcionou, e a dar vantagem às grandes empresas
de tecnologia.As 'Big Tech' estão a
demonstrar estabilidade quando quase todos os outros setores enfrentam
ameaças à procura e receitas e deverão reforçar-se levantando questões
da privacidade e de concorrência, defende.Também
estima que o teletrabalho irá continuar, o que terá consequências
negativas sobre setores como imobiliário (menos procura de escritórios) e
comércio a retalho e restauração nos centros urbanos, limitando as
receitas do Estado.Considera ainda a Moody's que a covid-19 aumenta o risco de maiores desigualdades (rendimento, raciais, género).O acesso a tratamento de saúde é diferenciado em muitos países face à situação socioeconómica.Na
parte laboral, enquanto muitos trabalhadores de baixo rendimento sofrem
perdas de empregos e de rendimento, outros profissionais trabalham em
casa com relativamente poucos transtornos e alguns acumulam dinheiro ao
reduzirem gastos discricionários. Em muitos países, as perdas de empregos relacionadas com a pandemia afetaram desproporcionalmente as mulheres, refere ainda.Na
parte energética, a pandemia tem induzido mudanças no consumo de
energia, provavelmente resultado dos bloqueios às deslocações e às
viagens de negócios, que podem acelerar a mudança estrutural em setores
como petróleo e carvão e é esperado que, em 2021, as decisões de
investimento tenham mais em consideração os aspetos ambientais (estão
previstos para 2021 os primeiros testes que avaliam a ligação entre
solidez dos ativos financeiros e os riscos climáticos). Sobre
a eventual disponibilidade de uma vacina em 2021, tal aliviaria as
preocupações com a saúde e apoiaria a recuperação económica, mas alerta a
Moody's que o acesso desigual pode aumentar riscos sociais (se os
preços das vacinas forem considerados muito altos ou se a distribuição
de vacinas for vista como injusta).