Montenegro quer jornalismo sustentável, tranquilo, menos ofegante e sem perguntas sopradas
8 de out. de 2024, 10:35
— Lusa/AO Online
“Digo-vos
isto preocupado com as garantias de qualidade naquilo que é o exercício
de uma profissão efetivamente muito relevante”, declarou Luís
Montenegro no final da intervenção com cerca de 30 minutos, feita de
improviso, na abertura da conferência sobre “O futuro dos media”, em
Lisboa.Perante uma plateia com muitos
presidentes de empresas de órgãos de comunicação social nacionais e de
dezenas de jornalistas, Luís Montenegro acentuou que o seu executivo
rejeita “qualquer tipo de intromissão no espaço que é o reduto do
jornalismo”.“Mas temos a obrigação de
possuir um edifício legislativo e de construir os alicerces da
sustentabilidade financeira deste setor para que possa depois
traduzir-se em maior grau de liberdade e em prosseguição do interesse
público de informar”, justificou o primeiro-ministro, numa alusão ao
plano do seu Governo para o setor.Luís
Montenegro fez a seguir várias apreciações sobre a atividade
jornalística, começando por observar que “é tão importante ter bons
políticos como bons jornalistas para que a democracia funcione”.Nesse
sentido, o líder do executivo considerou que seria melhor se a
comunicação social fosse “mais tranquila na forma como informa, na forma
como transmite os acontecimentos e não tão ofegante”.Ofegante,
“às vezes, de uma notícia que parece que é de vida ou de morte, quando
afinal as coisas estão a funcionar, quando afinal é preciso saber que em
cada momento nós estamos a discutir um determinado assunto”, completou.Apontou,
como exemplo, as vezes em que os jornalistas o tentam “apanhar à porta
de um evento, ou à saída de um evento”, para lhe perguntarem “se o PS já
respondeu ou não sei o quê, ou se eu já respondi ao PS”.O
primeiro-ministro disse então que se hoje, nesta conferência, falasse
sobre as negociações do Orçamento com o PS, à entrada ou à saída do
evento, “a probabilidade de a informação privilegiar o que dissera sobre
o setor dos media era baixa”.Na parte
final da sua intervenção, o líder do executivo abordou a questão sobre a
valorização da carreira do jornalista, mas com algumas críticas em
relação ao desempenho de alguns profissionais deste setor.“Vou
fazer aqui esta pequena provocação, não é para criticar ninguém em
especial. É só para verem como é que eu, do lado cá, que também é a
minha obrigação, me impressionam, seja pela positiva, seja pela
negativa”, começou por advertiu.A seguir
foi direto ao assunto: “Uma das coisas que mais me impressiona hoje,
quero dizer-vos aqui olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à
minha frente e ter os jornalistas a fazerem-me perguntas sobre
determinado acontecimento e ver que a maior parte deles tem um auricular
no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. E outros à minha
frente pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente
feita”, declarou.Como agente político e
como cidadão, segundo Luís Montenegro, olha para esse quadro e conclui:
“Assim, os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria
profissão, porque parece que está tudo teleguiado, está tudo
predeterminado”.“Na minha opinião isso não
valoriza o jornalista, nem valoriza o jornalismo. Deixo-vos este
relato, que é a minha opinião. Não pretende ser mais do que isso. É uma
forma de vos dizer que as garantias do exercício livre do jornalismo têm
a colaboração de todos, e este esquema, francamente, não é o que
valoriza mais a função, porque para isso não é preciso ser jornalista”,
advogou.E Luís Montenegro rematou: “Para
fazer a pergunta com o outro só para o ouvido, ou para ler a pergunta
que está num SMS do telefone, sinceramente não é uma especial
qualificação”.No seu discurso, ainda em
relação a este eixo sobre a qualidade para o exercício da profissão, o
primeiro-ministro assegurou que o seu executivo tomará medidas “de
incentivo ao setor em vários domínios, em particular valorizando a
carreira de jornalista”.“É preciso
valorizar a carreira do jornalista, valorizar a função do jornalista,
garantir que não há como hoje no mercado muita precariedade, muita
relação de dependência entre o jornalista e determinados objetivos que
garantem o seu trabalho, em vez de garantirem mais a sua independência e
a forma como exercem individualmente a profissão”, afirmou.Ainda
de acordo com o líder do executivo, o jornalismo enfrenta problemas “de
concorrência desleal, porque muita da desinformação resulta de trabalho
do jornalismo livre e rigoroso produzido órgãos de comunicação social”.“Ou
seja, é a partir das notícias que vocês fazem que, depois, muitas vezes
no espaço digital, se constroem aquilo que hoje se designa as
narrativas, as linhas de pensamento, as linhas de opinião, que não são
completamente falsas” mas que “criam caminhos de interpretação que são,
de tal maneira, impactantes e que são geridos pelas empresas que têm
esse potencial, quer com a própria gestão dos dados, com mecanismos como
a inteligência artificial”, acrescentou.