Moedas retira proposta sobre ciclovia da Almirante Reis em Lisboa para evitar "jogos partidários”
8 de jun. de 2022, 12:25
— Lusa/AO Online
“A mobilidade na cidade não
pode, nem deve estar condicionada a uma única ciclovia. Foi isso que
assumi desde a primeira hora. Continuo a acreditar que a solução que
apresentei é a correta, mas neste caso é melhor para todos dar um passo
ao lado para garantir uma prudente e uma fundamental serenidade nas
discussões importantes para a cidade”, defende Carlos Moedas, numa nota
escrita enviada à Lusa pelo gabinete de comunicação.A
declaração do presidente da Câmara de Lisboa, que governa sem maioria
absoluta, surge após ter decidido retirar a sua proposta para “dar
continuidade à execução dos trabalhos em curso de acordo com o projeto
de execução e cronograma anexos” relativamente à alteração da pista
ciclável da Almirante Reis, iniciativa que já tinha aprovação garantida
com a viabilização por parte dos vereadores do PS.A
decisão foi tomada no âmbito da reunião privada de hoje do executivo
camarário, em que estava prevista como extra-agenda a discussão e
votação das propostas sobre a ciclovia da Almirante Reis, nomeadamente a
do presidente da câmara para que as obras avancem e a do BE, Livre e
vereadora independente Paula Marques (eleita pela coligação PS/Livre)
para que, “antes de qualquer alteração na configuração do perfil da
avenida”, seja apresentado o projeto de alteração fundamentado para a
pista ciclável, abrindo um período de recolha de contributos de, no
mínimo, 45 dias.Fonte do gabinete da
vereadora independente Paula Marques disse à Lusa que, após a retirada
da iniciativa do presidente da câmara, a proposta de consulta pública
sobre o projeto para a ciclovia da Almirante Reis foi novamente adiada
para discussão e votação numa próxima reunião.O
social-democrata Carlos Moedas, na nota escrita enviada pelo seu
gabinete, afirma que “chega de manipular e bipolarizar a cidade” e
assegura que irá “continuar a trabalhar para repensar uma intervenção
Avenida Almirante Reis para todos”.“Congratulo-me
com o facto de todos os vereadores terem revelado disponibilidade para
em conjunto debatermos um projeto de longo prazo para Almirante Reis,
como sempre defendi”, realça o presidente da câmara.Numa
publicação nas redes sociais, o PS na Câmara de Lisboa diz que a
decisão de Carlos Moedas de retirar a proposta foi tomada “a poucos
minutos” de ser votada e “um dia depois de ser claro que, mesmo não
concordando com desenho, o PS se abstinha e que projeto podia avançar”.“Temos
um presidente da Câmara Municipal de Lisboa que não quer governar, mas
vitimizar-se. Dizer que não quer polarizar o debate no preciso momento
em que sabe que tem maioria, depois de ter passado semanas a acusar a
oposição de não o deixar governar, é elucidativo sobre os seus
propósitos”, referem os socialistas.O PS
considera ainda que “Lisboa precisa de um presidente que trabalhe para a
cidade, não de um criador de factos políticos artificiais que impedem a
construção de soluções para a habitação, higiene urbana,
sustentabilidade, os verdadeiros desafios da cidade”.Em
30 de maio, o presidente da câmara, além da proposta para que as obras
na ciclovia avancem, entregou documentos de suporte à solução provisória
para a Almirante Reis, apresentada no final de março, de retirar metade
da ciclovia no sentido ascendente e repor a segunda faixa para
automóveis no sentido ascendente, colocando toda a ciclovia no sentido
descendente.Entre os documentos estava a
estimativa orçamental de construção civil e sinalização, que inclui dois
cenários, um que custa 290 mil euros e outro cerca de 400 mil euros.Na
proposta, Carlos Moedas considerava ser necessário “libertar o sentido
ascendente, promover uma saída fluida do tráfego do centro para a
periferia; instalar a ciclovia, bidirecional na faixa descendente,
partilhada, não segregada, condicionar o acesso à baixa de tráfego
excessivo e, em simultâneo, promover condições de segurança e conforto
para os utilizadores e limitar toda a Avenida Almirante Reis a zona 30
[velocidade máxima de 30 quilómetros por hora]”.A
intervenção inclui ainda alterações nos sentidos de tráfego junto ao
mercado de Arroios, o acréscimo de cerca de 60 lugares de estacionamento
nesta zona e a eliminação do corredor 'Bus' da rua Carlos Mardel,
segundo o projeto de requalificação da ciclovia da Avenida Almirante
Reis.Relativamente à obra necessária, a
implementação da solução provisória implicará a raspagem de pintura e
repintura, remoção e localização de balizadores e alteração da
localização de “ilhas” para implantação dos semáforos, pelo que terá
“custos reduzidos […], obedecendo a critérios de racionalidade da
despesa pública".