MNE português pede solução conjunta para tragédias no Mediterrâneo
Migrações
13 de mar. de 2023, 14:00
— Lusa/AO Online
“É
uma tragédia e temos absolutamente de encontrar soluções que combatam
esse flagelo. Temos entre as duas margens do Mediterrâneo desafios muito
significativos, que são os do nosso tempo, como os fluxos migratórios e
a boa gestão desses fluxos, como a radicalização, a desinformação, até
as temáticas das alterações climáticas passam pelo Mediterrâneo”,
afirmou João Gomes Cravinho à agência Lusa.O
ministro dos Negócios Estrangeiros português falava à Lusa após a
cerimónia de abertura do lançamento da quinta fase do ‘Programa Sul’,
subordinada ao lema “Proteger os Direitos Humanos, o Estado de Direito e
a Democracia no Sul do Mediterrâneo, Através da Partilha de Normas",
uma iniciativa conjunta entre a União Europeia (UE) e o Conselho da
Europa (CdE) para o período de 2022 - 2025.“Temos
muito trabalho a fazer, sobretudo no quadro da União Europeia, para ter
uma gestão conjunta dos riscos e das responsabilidades. O nosso apelo é
para que haja uma partilha a nível dos países da UE dos riscos e das
responsabilidades. Do lado português, estamos sempre disponíveis para
assumirmos as nossas responsabilidades”, referiu Cravinho.Nas
últimas semanas, o mar Mediterrâneo tem sido palco de um aumento
significativo de tentativas de travessia de migrantes para a Europa em
embarcações precárias, em que muitas delas resultam na tragédia dos
naufrágios, que tem atingido sobretudo a costa italiana.Desde
01 de janeiro deste ano, dados do Ministério do Interior italiano,
desembarcaram em Itália 17.592 migrantes, número quase três vezes mais
do que os 5.995 registados no mesmo período de 2022. O número de
chegadas de migrantes pela rota do Mediterrâneo central aumentou 116% em
janeiro e fevereiro em comparação com 2022, segundo a Agência Europeia
da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex). Para
o chefe da diplomacia portuguesa, as relações com os países da orla sul
do Mediterrâneo são de “primeira importância para a política externa
Portugal, destacando a importância de Lisboa acolher a sede do Centro
Norte/Sul, o que constitui “uma mais-valia significativa”.Questionado
pela Lusa sobre o facto de o Programa Sul, criado em 2012, na ressaca
da ‘Primavera Árabe’, os valores que norteiam o projeto estarem ainda
por cumprir na quase totalidade dos países norte-africanos, Cravinho
defendeu que não se pode ter apenas uma abordagem punitiva, admitindo,
porém, que há ainda muito a fazer.“Aquilo
que nos interessa é criar as melhores condições possíveis para o
progresso dos direitos humanos, do Estado de Direito em todo o lado e,
convenhamos, temos também, a norte do Mediterrâneo, algumas situações
que nos são preocupantes”, referiu o chefe da diplomacia portuguesa, sem
nomear os países.“Por outro lado, temos
outras convenções, como a de Istambul, para combater a violência
doméstica e de género. Isso é matéria que nos convoca a todos, norte e
sul do Mediterrâneo. Há muito trabalho que se pode fazer. Ninguém pode
imaginar que a assinatura destas convenções é uma varinha mágica que
resolve os problemas todos, mas são instrumentos que nos permitem
começar a trabalhar em temas que nos interessam a todos, como o Estado
de Direito ou o combate à desigualdade de género”, argumentou.Salientando
a importância do ‘Programa Sul’, Cravinho destacou que é através deste
projeto que se estão a criar parcerias com vários países da orla sul do
Mediterrâneo, como, por exemplo, Argélia, Marrocos e Tunísia.“Com
o lançamento deste programa, que envolve 5,5 milhões de euros, baseado
no Centro Norte/Sul, lança-se um processo que vai levar à adesão de
alguns dos países da orla sul do Mediterrâneo a convenções do Conselho
da Europa.A quinta fase do ‘Programa Sul’
visa sobretudo a criação progressiva de um espaço jurídico comum entre a
Europa e o Sul do Mediterrâneo com base nas convenções do Conselho da
Europa. O evento conta com a presença de
delegações das duas margens do Mediterrâneo e funciona como uma
plataforma para o intercâmbio sobre o valor acrescentado das normas
partilhadas e a sua aplicação na região. Mais
de 70 representantes das autoridades do Sul do Mediterrâneo,
instituições parceiras, sociedade civil e meios de comunicação social
vão apresentar e partilhar experiências e discutir desafios e
perspetivas comuns para fortalecer os direitos humanos, o Estado de
Direito e a cooperação na região.A
apresentação do lançamento do ‘Programa Sul’, que termina terça-feira,
apresenta hoje duas mesas redondas: “Avançar para um espaço jurídico
comum entre a Europa e a região do sul do Mediterrâneo” e “Garantir a
implementação dos padrões partilhados”.Terça-feira,
o dia conta com reuniões paralelas de grupos de trabalho sobre temas
como, entre outros, “A luta contra a corrupção, branqueamento de
capitais e financiamento do terrorismo”, “Combate ao tráfico de seres
humanos”, “Liberdade de expressão, imprensa pluralista e acesso à
informação” e “Combate à violência sobre as mulheres e crianças”.