MNE antevê queda de "ditador da Bielorrússia" em encontro com líder da oposição exilada
NATO
12 de jul. de 2023, 08:29
— Lusa/AO Online
O
chefe da diplomacia portuguesa participou num evento à margem da cimeira
[da NATO], com Tsikhanouskaya,
que se encontra exilada nesta cidade, e com a homóloga da Islândia,
Thordis Gylfadottir, com vista a debater o papel da Bielorrússia na
segurança europeia e euroatlântica.Num
discurso escrito enviado à Lusa, o chefe da diplomacia portuguesa
elogiou no encontro a "coragem e liderança ao longo dos últimos anos [de
Tsikhanouskaya], carregando a tocha da liberdade", e de Syarhei
Tsikhanouski (marido da ex-candidata presidencial em 2020] e de outros
presos políticos que "são heróis da democracia"."Acredito
muito que em algum momento, e pode ser mais cedo ou pode ser mais
tarde, o ditador da Bielorrússia cairá, o seu regime entrará em colapso,
e o povo da Bielorrússia beneficiará da liberdade a que tem direito".Cravinho
descreveu a situação atual como "muito sombria", referindo que o
território da Bielorrússia foi usado para o lançamento da invasão em
grande escala da Rússia à Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado,
numa tentativa fracassada de chegar a Kiev. "A
Bielorrússia é mais do que cúmplice, é parceira no crime da invasão de
[Vladimir] Putin (Presidente russo) e enquanto Lukashenko estiver
no poder, é isso que permanecerá. Ao posicionar armas nucleares táticas
na Bielorrússia, Putin moveu-as várias centenas de quilómetros para o
oeste, o que é claramente uma tentativa de intimidar não apenas a
Ucrânia, mas também a NATO", afirmou o governante, adicionando que "é
também a maneira brutal de Putin dizer que na Bielorrússia ele faz o que
quer e que a soberania da Bielorrússia pouco lhe interessa, exceto em
termos puramente formais".Ao longo dos
anos, na análise do político português, o Presidente bielorrusso
envolveu-se num "ato de equilíbrio, por um lado sendo amplamente
dependente do seu patrono Putin, mas ao mesmo tempo buscando estabelecer
uma certa esfera de autonomia".O maior
problema de Lukashenko, prosseguiu, é que, "à medida que a guerra
avança, o seu próprio espaço de autonomia, que é sua tábua de salvação,
está a tornar-se cada vez menor" e, quanto mais a situação militar piora
para Putin, "a sua instrumentalização da Bielorrússia tornar-se-á menos
tolerante" com os requisitos do líder do Governo de Minsk."A derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia será um desastre também para a ditadura na Bielorrússia", sustentou.O
fim desta guerra exigirá uma "nova e sólida arquitetura de segurança",
atendendo ao que aconteceu nos últimos oito anos ou mais, disse ainda o
chefe da diplomacia portuguesa, citando o exemplo da Geórgia. A líder
da oposição bielorrussa, derrotada por Lukashenko nas eleições
realizadas em 2020 e consideradas fraudulentas pela generalidade da
comunidade internacional, expressou por sua vez gratidão a Portugal."Foi
um prazer receber o ministro João gomes Cravinho no nosso escritório em
Vilnius hoje. Discutimos a transferência de armas nucleares para o
nosso território, as ameaças iminentes contra a nossa independência e a
estratégia da União Europeia para a Bielorrússia. Agradeço o apoio
contínuo de Portugal, declarou no Twitter.Tsikhanouskaya,
assim como outros opositores ao regime de Lukashenko, fugiu do país
depois das últimas eleições presidenciais, em agosto de 2020. Lukashenko,
aliado de Moscovo, conquistou o sexto mandato consecutivo com 80% dos
votos, mas o resultado das eleições não foi reconhecido pelos
Estados-membros da União Europeia, que viria a aplicar sanções contra
Minsk, envolvendo membros do Governo, personalidade do regime e
instituições por violação dos direitos humanos.A
líder da oposição, Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020,
apelou no ano seguinte para criação de um tribunal internacional para
investigar e julgar crimes alegadamente cometidos pelo Governo de
Lukashenko. "Não podemos autorizar os ditadores a escrever a história", insistiu Tsikhanouskaya. Ao
longo de meses após as eleições, manifestações de protesto incentivadas
por Tsikhanouskaya foram reprimidas fortemente ma Bielorrússia. A
polícia deteve mais de 35 mil pessoas e milhares de manifestantes foram
agredidos pelos agentes. Tsikhanouskaya classificou esta repressão como "um terror que o país não tinha experimentado desde o tempo do estalinismo".Em
junho do ano passado, a política foi recebida em Lisboa pelo Presidente
da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita que
realizou a Portugal, antes de ser condenada à revelia a 15 anos de
prisão na Bielorrússia, acusada de alta traição, conspiração para tomar o
poder de forma inconstitucional e criação de uma organização
extremista. O regime bielorrusso é aliado de Moscovo e na invasão da Ucrânia em 2022 as tropas russas usaram território da Bielorrússia.Nos
últimos anos multiplicaram-se as denúncias de violações dos direitos
humanos na Bielorrússia e de repressões e detenções arbitrárias a
jornalistas e opositores ao regime.