Ministro diz que vagas de Medicina são afetadas por “pressões corporativas”
Ensino superior
29 de jul. de 2020, 17:52
— Lusa/AO Online
"Esta é uma área
fortemente condicionada por mecanismos, procedimentos e pressões
corporativas a que temos de nos deixar de vincular em Portugal", disse à
agência Lusa Manuel Heitor, à margem da inauguração de um laboratório
para a inovação digital na agricultura, em Torres Vedras, no distrito de
Lisboa.O governante defendeu que "não é
com corporativismos e com o fecho da prática da Medicina que vamos
conseguir evoluir", apesar de "não reconhecer quaisquer constrangimentos
corporativos que possam ser razoáveis nesta área".O
ministro insistiu que é necessário "trabalhar na criação de novos
cursos e no aumento de vagas" em Medicina e que tem havido um "aumento
do investimento em infraestruturas, na ciência e no ensino superior".Na
terça-feira, a Plataforma para a Formação Médica em Portugal, que
agrega a Ordem dos Médicos (OM), o Conselho de Escolas Médicas
Portuguesas (CEMP) e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina
(ANEM), alertou o ministro para a necessidade de reforçar o investimento
público nas faculdades de medicina do país. Paralelamente,
as três organizações avisaram que a capacidade das faculdades "está há
muito nos limites para garantir um ensino de qualidade, quer pelas suas
condições de espaços físicos, quer pela ausência de capacidade de
contratação de recursos humanos que permitam um rácio aluno/tutor de
acordo com as recomendações internacionais", realçando que a situação
tem sido atestada pela Associação para a Avaliação e Acreditação do
Ensino Superior (A3ES).Já o bastonário da
Ordem dos Médicos acusou Manuel Heitor de fazer uma "pressão brutal"
sobre a Agência de Avaliação e Acreditação (A3ES) para a abertura de
novos cursos de medicina.Depois de uma
primeira reação da Ordem a lembrar que a criação de mais vagas no ensino
superior é uma competência do Ministério, Miguel Guimarães considerou
que a posição manifestada por Manuel Heitor no sábado passado - na qual
falou de uma "mensagem claríssima" de que "a abertura e a diversificação
do ensino da Medicina deve ser feita através de novas ofertas por
outras instituições" -, até "pode levantar outro tipo de suspeitas"."Nada
tenho contra a formação de qualidade e se é feita no setor público ou
no setor privado. Aquilo que o ministro fez - e que não está correto e
antigamente era impossível - foi pressionar de forma brutal a sua
própria agência, a A3ES, para que esta aprove os novos cursos de
Medicina. E isto não está bem", sublinhou, acrescentando: "O ministro
sabia que as escolas médicas não têm mais capacidade".A
Ordem dos Médicos esclareceu que não tem interferência na abertura de
novos cursos de medicina ou no aumento de vagas nos já existentes,
referindo que essa competência é do Ministério do Ensino Superior e das
universidades.Na sexta-feira, a
Direção-Geral do Ensino Superior divulgou os dados do concurso nacional
de acesso ao ensino superior público de 2020-2021, que confirmam a
decisão já anunciada pelas universidades em manter o mesmo número de
vagas, apesar da possibilidade de aumento.O
ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior considerou que a
manutenção das vagas para os cursos de Medicina torna clara a
necessidade disponibilizar o ensino desta área noutras instituições,
públicas ou privadas.