Ministro da Educação compromete-se a não congelar carreira de professores
13 de set. de 2022, 11:18
— Mariana Caeiro/Sílvia MaiaLusa/AO Online
“Tenho plena
noção da penalização que existe para quem é professor desta incapacidade
de recuperação daquela fatia do tempo que ficou por recuperar”, começou
por afirmar o ministro da Educação, em entrevista à Agência Lusa.“Temos
de perceber que há o que conseguimos fazer e o que não conseguimos
fazer. Eu considero-me uma pessoa honesta e não iria para uma mesa de
negociações empatar tempo, a fazer de conta”, acrescentou João Costa,
referindo-se à recuperação integral do tempo de serviço, uma das
principais reivindicações dos sindicatos de professores, que em breve
retomam negociações com a tutela.As duas
maiores estruturas sindicais – Fenprof e FNE – pediram ao Ministério da
Educação que fosse elaborado um protocolo negocial com os temas a
debater, mas para o ministro essa é uma reivindicação que deverá ficar
de fora.“Muito sinceramente, não me parece
que seja sério da minha parte incluir questões num protocolo que já sei
à partida que não temos condições de negociar. Estamos a fazer essa
análise para identificar os pontos em que podemos chegar a algum lugar”,
afirmou.Durante o período de assistência
financeira da ‘troika’, a carreira dos professores esteve congelada
durante nove anos, quatro meses e dois dias, dos quais o Governo aceitou
recuperar quase três anos.O ministro
afirma agora que a carreira docente não voltará a ser congelada:
“Podemos hoje ter garantias, apesar da crise que vivemos, de que a
carreira docente não vai voltar a ser congelada e damos esta garantia
porque o processo de descongelamento e de recuperação do tempo de
serviço foi feito com responsabilidade orçamental. Se não tivesse sido,
hoje podíamos estar numa situação mais delicada”. Questionado
sobre a desigualdade em relação aos docentes das ilhas dos Açores e da
Madeira, que conseguiram recuperar de forma faseada todo o tempo de
serviço, João Costa explicou que o salário mensal é pago pelo orçamento
regional, mas “a pensão é paga pelo Orçamento do Estado do Governo da
República”. “Se eu pudesse dizer assim
‘muito bem os professores que estão aqui no continente, mas quando se
aposentarem, outro paga’, se calhar também tinha condições para
recuperar integralmente o tempo de serviço. Temos de ter seriedade
também na forma como analisamos estas questões. Os Açores e Madeira
podem, porque não têm o peso das aposentações”, afirmou.Sobre
a recente reivindicação da Fenprof, que veio defender que os salários
dos professores deveriam sofrer um aumento mínimo de 10%, tendo em conta
a inflação, João Costa disse que essa é uma negociação da Administração
Pública.O ministro reconheceu que em
Portugal os “salários são baixos” e que, depois do aumento do salário
mínimo, “é compromisso deste Governo olhar para o salário médio”. No
entanto, defendeu que é preciso olhar para as carreiras gerais: “Um
técnico superior, que tem habilitações semelhantes à de um professor ou
de outros profissionais, tem um salário significativamente mais baixo do
que o das carreiras especiais”.Sobre o próximo Orçamento do Estado, João Costa revelou que estarão lá algumas das reivindicações dos sindicatos.“Há
um compromisso que estará, obviamente, já presente no Orçamento do
Estado. Nós vamos negociar um modelo de recrutamento que tem também como
fim uma maior estabilidade e uma maior vinculação de professores. E,
obviamente, isso estará expresso no Orçamento de Estado, que é uma
aspiração legítima das organizações sindicais e, já agora, é também uma
aspiração nossa”, disse.Entretanto, na
segunda-feira, a Fenprof admitiu que os professores poderão avançar para
uma greve ainda durante o primeiro período de aulas, caso não vejam
atendidas algumas das suas reivindicações.João
Costa disse ter “um grande respeito pelo sindicalismo e pelo direito à
greve”, acrescentando que o Ministério quer negociar, mas deixou um
aviso: “Eu não negociarei sobre ameaças de greve. Ou há vontade de
negociar ou há vontade de fazer greve. As duas coisas têm uma certa
incompatibilidade. Portanto, é preciso que a Fenprof também saiba o que
quer”.