Ministra do Trabalho não compreende que esquerda não esteja junta na aprovação
OE2021
27 de out. de 2020, 12:20
— Lusa/AO Online
“Eu diria que este
é, de facto, um momento de alguma perplexidade. […] É de facto um
momento em que penso que não se compreende que não estejamos todos
juntos a construir este Orçamento do Estado que responde ao país nesta
fase que vivemos”, disse Ana Mendes Godinho, durante a audição da sua
equipa ministerial pela comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, a
propósito da discussão na generalidade do Orçamento do Estado para 2021
(OE2021).O comentário surgiu em resposta à
intervenção do deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro, que deu o tom
à crítica ao Bloco de Esquerda (BE), que anunciou o voto contra o
OE2021 na generalidade, deixando a sua aprovação e passagem à discussão
na especialidade dependente de uma convergência dos restantes partidos
de esquerda, do PAN e das duas deputadas não inscritas.Tiago
Barbosa Ribeiro defendeu que este é um “orçamento claramente à
esquerda” enquanto “instrumento político e não meramente
contabilístico”, no qual se concretiza uma visão para o país e se dá
continuidade ao caminho seguido desde 2015 em diálogo e negociação com
PCP, BE, PAN e PEV, e que concretiza várias medidas de apoio social, de
combate à pobreza, de emprego sustentável e de alargamento de
equipamentos sociais, frisando os mais de 22 mil milhões de euros
orçamentados para medidas sociais, emprego e proteção social.“Infelizmente,
nós soubemos ontem que isto não foi suficiente para garantir a
viabilização do OE depois de meses de diálogo”, disse o deputado,
dirigindo-se ao BE.“Devo dizer que
compreendemos politicamente o voto do PSD e da direita, porque este OE
se posiciona contra os seus valores e seus princípios e nós defendemo-lo
nesse campo, mas apenas podemos registar com desilusão a posição que
foi assumida pelo BE. No PS nós não queimamos nenhuma ponte, nós não
perdemos o foco da nossa orientação e trabalharemos para maiorias
alargadas e necessárias para as respostas aos desafios que o país
enfrenta”, acrescentou.Tiago Barbosa
Ribeiro sublinhou que as diferenças na discussão “fazem parte da
identidade de cada partido”, e que estas “não estão em causa” e deixou
críticas, com culpas implícitas, a um eventual desfecho desfavorável na
votação final.“Este é um OE do qual o PS
não exclui, nem se exclui, do diálogo com ninguém, sobretudo nesta área,
mas em relação ao qual cada partido, sendo livre de exercer o seu voto,
é também livre de responder pelas consequências do seu voto num quadro
parlamentar que é do conhecimento de todos e no contexto de uma violenta
crise pandémica”, disse.Ana Mendes
Godinho respondeu ao repto do deputado socialista fazendo eco de muito
do que já havia sido dito, nomeadamente questionando a direita, e o PSD
em particular, sobre aquilo que apontou como contradição de caracterizar
o OE2021 como despesista, pedindo, no entanto, mais dinheiro para
“outros públicos” sem dizer a quem devem ser retirados apoios e verbas
que compensem essa transferência.Uma perplexidade à direita que a ministra estende à esquerda, nomeadamente ao BE.“Alguma
perplexidade, porque depois de um trabalho intenso de muitas
negociações e de muita evolução num caminho que acreditamos que é de
resposta ao país, num momento em que o país precisa de uma resposta
coletiva e de uma mobilização do conjunto da esquerda para responder ao
momento que vivemos de uma forma diferente da forma como foi respondido
numa outra crise”, disse Ana Mendes Godinho.