OE2021
Ministra do Trabalho não compreende que esquerda não esteja junta na aprovação

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social manifestou na segunda-feira incompreensão e perplexidade por os partidos de esquerda não estarem "todos juntos" na aprovação do Orçamento do Estado, numa referência ao BE.


Autor: Lusa/AO Online

“Eu diria que este é, de facto, um momento de alguma perplexidade. […] É de facto um momento em que penso que não se compreende que não estejamos todos juntos a construir este Orçamento do Estado que responde ao país nesta fase que vivemos”, disse Ana Mendes Godinho, durante a audição da sua equipa ministerial pela comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, a propósito da discussão na generalidade do Orçamento do Estado para 2021 (OE2021).

O comentário surgiu em resposta à intervenção do deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro, que deu o tom à crítica ao Bloco de Esquerda (BE), que anunciou o voto contra o OE2021 na generalidade, deixando a sua aprovação e passagem à discussão na especialidade dependente de uma convergência dos restantes partidos de esquerda, do PAN e das duas deputadas não inscritas.

Tiago Barbosa Ribeiro defendeu que este é um “orçamento claramente à esquerda” enquanto “instrumento político e não meramente contabilístico”, no qual se concretiza uma visão para o país e se dá continuidade ao caminho seguido desde 2015 em diálogo e negociação com PCP, BE, PAN e PEV, e que concretiza várias medidas de apoio social, de combate à pobreza, de emprego sustentável e de alargamento de equipamentos sociais, frisando os mais de 22 mil milhões de euros orçamentados para medidas sociais, emprego e proteção social.

“Infelizmente, nós soubemos ontem que isto não foi suficiente para garantir a viabilização do OE depois de meses de diálogo”, disse o deputado, dirigindo-se ao BE.

“Devo dizer que compreendemos politicamente o voto do PSD e da direita, porque este OE se posiciona contra os seus valores e seus princípios e nós defendemo-lo nesse campo, mas apenas podemos registar com desilusão a posição que foi assumida pelo BE. No PS nós não queimamos nenhuma ponte, nós não perdemos o foco da nossa orientação e trabalharemos para maiorias alargadas e necessárias para as respostas aos desafios que o país enfrenta”, acrescentou.

Tiago Barbosa Ribeiro sublinhou que as diferenças na discussão “fazem parte da identidade de cada partido”, e que estas “não estão em causa” e deixou críticas, com culpas implícitas, a um eventual desfecho desfavorável na votação final.

“Este é um OE do qual o PS não exclui, nem se exclui, do diálogo com ninguém, sobretudo nesta área, mas em relação ao qual cada partido, sendo livre de exercer o seu voto, é também livre de responder pelas consequências do seu voto num quadro parlamentar que é do conhecimento de todos e no contexto de uma violenta crise pandémica”, disse.

Ana Mendes Godinho respondeu ao repto do deputado socialista fazendo eco de muito do que já havia sido dito, nomeadamente questionando a direita, e o PSD em particular, sobre aquilo que apontou como contradição de caracterizar o OE2021 como despesista, pedindo, no entanto, mais dinheiro para “outros públicos” sem dizer a quem devem ser retirados apoios e verbas que compensem essa transferência.

Uma perplexidade à direita que a ministra estende à esquerda, nomeadamente ao BE.

“Alguma perplexidade, porque depois de um trabalho intenso de muitas negociações e de muita evolução num caminho que acreditamos que é de resposta ao país, num momento em que o país precisa de uma resposta coletiva e de uma mobilização do conjunto da esquerda para responder ao momento que vivemos de uma forma diferente da forma como foi respondido numa outra crise”, disse Ana Mendes Godinho.