Ministra da Justiça quer mudar modelo de comunicação dos reclusos com o exterior
6 de mar. de 2019, 16:17
— Lusa/AO Online
O
repto para que o "paradigma da comunicação" dos reclusos com o exterior
e as famílias seja alterado, por estar desatualizado da realidade, foi
lançado na cerimónia de posse, em Lisboa, de Paulo Moimenta de Carvalho e
Francisco Navalho como subdiretores-gerais da Reinserção e Serviços
Prisionais (DGRSP).
Rómulo
Mateus, que recentemente tomou posse como diretor-geral das prisões,
sugeriu à ministra da Justiça, Francisca van Dunem, uma alteração à
legislação que revogue e altere o artigo do regulamento geral dos
serviços prisionais que impõe como limite aos reclusos uma chamada
telefónica por dia, com a duração máxima de cinco minutos.
No
entender do diretor-geral do sistema prisional, este direito atribuído
aos reclusos está "naturalmente desatualizado" e necessita ser revisto,
pelo que apelou, na presença da ministra da Justiça, para a necessidade
de "melhorar as condições" naquele domínio.
Rómulo
Augusto Mateus revelou que já foi feito um levantamento de "novos
postos públicos que podem ser colocados nas alas" prisionais, por forma a
"facilitar a comunicação dos reclusos".
Indicou
que a DGRSP já dispõe de "150 novos telefones a custo zero" a colocar
nos estabelecimentos prisionais para "facilitar as conversas dos
reclusos com o exterior", designadamente com a família.
"Porventura
este paradigma tem que ser pensado com mais tempo e a fundo porque
estamos na era da comunicação global e o regulamento geral [das prisões]
tem dez anos e precisa de ajustamentos", sublinhou.
À
saída da cerimónia, a ministra concordou que é "absolutamente
necessário encontrar um novo modelo que permita aos reclusos contactarem
com as respetivas famílias nos limites daquilo que o sistema prisional
considera que é aceitável e impedir que entrem nos estabelecimentos
prisionais produtos proibidos [como telemóveis]".
Francisca
Van Dunem reconheceu que o problema do tráfico de telemóveis nas
cadeias não se resolve unicamente através do aparelho repressivo, do
aumento do número de guardas ou da instalação de sistemas de deteção,
porque "haverá sempre modelos de aparelhos dificilmente detetáveis quer
pelos guardas, quer pelos sistemas eletrónicos".
"Provavelmente
teremos que repensar o modelo [de comunicação] à luz do que acontece
noutros países", disse a ministra, observando que a questão está em fase
de avaliação, mas terá uma resposta para breve.
Durante
a cerimónia, Rómulo Mateus manifestou-se também preocupado com a
"questão das penas sucessivas", revelando que tem recebido cartas de
reclusos a queixarem-se que têm de cumprir 30 anos de prisão (mais do
que a pena máxima de 25 anos) porque vão somando condenações em
processos-crimes que estão dispersos.
Neste
domínio, a ministra explicou que o que acontece é que "há dispersão em
termos territoriais de processos", não havendo "suficiente contacto
entre os processos", razão pela qual é "fundamental trabalhar com o
Conselho Superior da Magistratura" para resolver o problema.
Na
sua intervenção, o diretor-geral dos serviços prisionais mostrou-se
também preocupado com o "pequeno número de saídas de reclusos em
liberdade condicional com vigilância eletrónica", tendo Francisca Van
Dunem admitido que se trata de uma questão jurisdicional que ultrapassa
as competências da DGRSP e que só pode ser resolvida através de uma
"sensibilização" de quem decide nos tribunais.