Ministério Público investiga negócio do aluguer do ‘Cachalote’
6 de dez. de 2024, 10:33
— Carolina Moreira
O Ministério Público (MP) está a investigar o antigo
vice-presidente do Governo Regional dos Açores, Sérgio Ávila, por gestão
danosa e participação económica em negócio do Grupo SATA, com o intuito
de averiguar o negócio do aluguer do avião Airbus A330 que ficou
conhecido como “Cachalote”.Segundo a SIC, a investigação do MP
abrange também o antigo presidente da companhia aérea açoriana, Luís
Parreirão, no entanto nenhum dos suspeitos foi constituído arguido até
ao momento.Já este ano, o negócio motivou buscas realizadas pela
Polícia Judiciária nas instalações da companhia aérea. Só não decorreram
buscas na casa de Sérgio Ávila, porque o tribunal não deu autorização.Em
causa está o aluguer de longa duração da aeronave em 2016, que ficou
conhecida por “Cachalote” por ostentar a imagem do mamífero, integrado
no processo de renovação da frota da SATA decidido pela administração
então liderada por Luís Parreirão, que gerou cerca de 45 milhões de
euros (ME) de prejuízo.Segundo a reportagem da SIC, Sérgio Ávila diz
não conhecer as acusações e nega qualquer envolvimento no processo que
se encontrava sob a alçada da Secretaria Regional dos Transportes.
Também a atual administração da SATA não comenta o caso, por se tratar
de uma decisão de uma gestão anterior da companhia. O PS/Açores
reagiu ontem à reportagem da SIC, salientando que Sérgio Ávila, “no
âmbito da sua atividade governativa, como é público, não exerceu
qualquer função de tutela setorial sobre a referida empresa e setor de
atividade” e não praticou atos relativos ao aluguer.Em nota, o
partido realça ainda que sobre o também deputado na Assembleia da
República “não impende a condição de arguido, e por duas vezes, dois
juízes diferentes, de instâncias diferentes, consideraram não haver
qualquer fundamento para desenvolvimento de qualquer diligência
processual do que o incluísse”.O primeiro voo comercial do Airbus
A330 da SATA Internacional/Azores Airlines aconteceu em março de 2016,
ligando Ponta Delgada a Boston, nos Estados Unidos da América.A decisão de utilizar os aviões A330 nas rotas de longo curso foi anunciada pela administração do grupo em junho de 2015.O
contrato de ‘leasing’ custou à SATA mais de 40 ME, tendo o aparelho
ficado parado durante dois anos, devido aos elevados custos de
manutenção, segundo um ofício do Governo dos Açores revelado em março de
2021.Segundo as explicações do executivo, o contrato e as reservas
de manutenção do aparelho custaram à SATA um total de 24,6 ME em cinco
anos (5,9 ME em 2016, 7,6 ME em 2017, 5,9 ME em 2018, 4,3 ME em 2019 e
835 mil euros em 2020), embora o avião só tenha operado nos três
primeiros anos.A estes montantes soma-se a antecipação do fim do
contrato de aluguer do “Cachalote”, que ultrapassou os 16 ME (entre
prestações pagas em devido tempo e também uma indemnização na sequência
de negociações extrajudiciais por incumprimento dos prazos de liquidação
da dívida).Já este ano, uma sentença de 31 de outubro do Tribunal
Comercial do Tribunal Superior de Inglaterra e País de Gales condenou a
SATA a pagar mais 3 milhões de dólares (aproximadamente 2,7 milhões de
euros) à HiFly, que comprou o “Cachalote” em 2018, por rendas não pagas,
pagamento de reserva de manutenção e juros de mora, aumentando os
custos da SATA com a aeronave para cerca de 45 ME.De referir que,
entre outubro de 2019 - com António Teixeira e Ana Azevedo na
administração da SATA - e abril de 2020 - já com Luís Rodrigues a
liderar a companhia, ao lado de Teresa Gonçalves e Mário Chaves -, a
SATA, a HiFly e a AELF chegaram a um acordo para a transferência do A330
da HiFly para a AELF (Aircraft Engine Lease Finance).Na comissão de
inquérito à SATA realizada na Assembleia Legislativa Regional, em
novembro de 2023, o antigo presidente da companhia aérea açoriana, Luís
Parreirão, justificou a opção da empresa pelos dois aviões A330, como
sendo, à data, os aparelhos mais fiáveis para viagens de longo curso.De
referir que, quando o negócio do “Cachalote” foi realizado, o Governo
Regional era liderado pelo socialista Vasco Cordeiro (2012-2020), Vítor
Fraga desempenhava funções de secretário regional dos Transportes
(2012-2017) e Sérgio Ávila era vice-presidente do Governo Regional, com a
tutela das Finanças (2004-2020).