Ministério garante respeito pela Constituição e autonomia em diploma criticado pelos Açores
16 de dez. de 2021, 12:20
— Lusa/AO Online
Em
resposta a questões da Lusa, o gabinete do ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior garante que “o respeito e valorização dos
valores constitucionais, como sempre, estão na base da proposta
legislativa apresentada”. “O
respeito e a valorização da autonomia dos Açores ou da Madeira não está
em causa”, acrescenta a tutela, depois de, na quarta-feira, tanto o
Governo Regional açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) como o líder do PS/Açores
terem apontado inconstitucionalidades ao diploma.O
ministério tutelado por Manuel Heitor sublinha que o diploma “dá
absoluta necessidade de abrir novas oportunidades para os Açores”.A
tutela explica que foi, ainda, decorrente da tentativa de “recuperar
todos os atrasos verificados nos últimos anos no âmbito do processo de
instalação de um centro europeu de lançamento de satélites na ilha de
Santa Maria". Por
outro lado, o documento proposto pretendeu “introduzir no enquadramento
legal português uma mudança de paradigma através de um regime próprio
para o licenciamento de operações de centros de lançamentos espaciais,
com possibilidade de reutilização de veículos e/ou com utilização de
plataformas oceânicas (ou seja, ‘offshore’)”. “A
atividade passa, assim, a ser aberta a promotores especializados
através de um regime de licenciamento, ao invés de depender de uma
decisão pública prévia, tipicamente associada a uma concessão
tradicional (como em obras de construção civil)”, destaca a tutela. É
também proposta “a instituição de um regime transitório que evita um
vazio de competências, de modo a manter a competitividade nacional nesta
matéria”.Assim,
determina-se “que o processo de decisão é feito com o apoio de uma
comissão técnica especializada e multidisciplinar, a quem cabe a análise
do pedido, a instrução do procedimento e a apresentação, fundamentada,
de proposta de decisão”.Por outro lado, são “sempre ouvidas as entidades relevantes em função da matéria e/ou da conexão territorial”, acrescenta. “A
posição do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do
Governo tem sido sempre a de valorizar a autonomia e atrair
investimentos para as Regiões Autónomas, facilitando e estimulando redes
internacionais com capacidade de investimento”, refere.Acrescenta
que é “um desígnio estratégico atrair investimentos novos e de
qualidade, assim como ambientalmente sustentáveis para os Açores”, de
forma “a criar riqueza através de um projeto verdadeiramente industrial
de base europeia e que garanta a preservação do ambiente único desta
região autónoma”. O
Governo da República considera ainda ser “fundamental garantir a janela
de oportunidade de acesso a fundos comunitários (incluindo do PRR
[Plano de Recuperação e Resiliência] e do novo Programa Europeu para o
Espaço, entre outros)”.Pretende-se,
através do recurso aos financiamentos disponíveis, “criar e promover um
verdadeiro ecossistema espacial, designadamente na Região Autónoma dos
Açores, de forma a assegurar a competitividade internacional deste
projeto e a capacidade e competências para competir à escala europeia e
internacional”, assegura o gabinete de Manuel Heitor.A
tutela observa ainda que “a proposta legislativa traduz temas que têm
vindo a ser sido discutidos nos últimos meses”, incluindo a perspetiva
de “garantir sempre a articulação regional, nacional e europeia”.Refere-se,
também, a perspetiva de “atração de empresas e talentos europeus que se
mobilizem para uma verdadeira parceria estratégica que reforce a
sustentabilidade das atividades espaciais e a autonomia europeia de
acesso ao espaço”. A
Lusa noticiou na quarta-feira que o Governo dos Açores emitiu parecer
desfavorável à aprovação do projeto de decreto-lei da República para o
regime jurídico das atividades espaciais.No
plenário regional, o presidente do Governo Regional, José Manuel
Bolieiro, notou que “são os atos legislativos das regiões que
prevalecem”, sendo “no regime do direito supletivo que pode intervir
qualquer iniciativa continental”. Bolieiro
manifestou a intenção de “transformar esta tentativa” do Governo da
República “num nado morto e aproveitar a oportunidade para refletir
sobre aprofundamento da autonomia”.Vasco
Cordeiro, deputado do PS, líder do PS/Açores e ex-presidente do Governo
Regional açoriano, referiu, também, “a inconstitucionalidade flagrante
da proposta de decreto-lei”.O BE apresentou uma proposta para que o parlamento açoriano se pronuncie contra o diploma proposto pela República.