Mineração no mar dos Açores é “altamente ameaçadora” da biodiversidade marinha
27 de jul. de 2024, 13:52
— Lusa
“Ignorando
a recomendação da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores
(ALRAA) para se estabelecer uma moratória à Mineração em Mar Profundo e
um proclamado ‘entendimento governamental’ no mesmo sentido, o Plano de
Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo dos Açores aprovado ontem
[sexta-feira] em Conselho de Ministros, é omisso quanto a uma factual
proibição desta atividade”, denunciaram hoje em comunicado as
Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGA) ANP|WWF, Sciaena e
SOA.A presidência do Conselho de Ministros
ainda não enviou às redações o comunicado da reunião de sexta-feira,
onde, segundo as três organizações ambientalistas, o assunto terá sido
tratado.Na nota, as ONGA justificam que a
decisão, “embora não defina áreas para a mineração se desenvolver no
futuro, empurra uma decisão para uma análise ‘caso a caso’ de futuros
pedidos para a exploração económica desta atividade altamente ameaçadora
da biodiversidade marinha e do bem-estar das populações e gerações
futuras”.Assim, apelam aos partidos e ao
Governo Regional “que apresentem com urgência propostas legislativas
vinculativas declarando a moratória à mineração em mar profundo nas
águas dos Açores”.“Se Portugal depende de
outros Estados para a implementação de uma moratória a nível europeu ou
global, o mesmo não é verdade para as águas sob a sua jurisdição, pelo
que um posicionamento claro e com força de lei por parte do Governo
açoriano seria, de facto, um passo histórico e poderia juntar a Região
Autónoma dos Açores a outras 20 regiões e países pioneiros, como o
Hawaii recentemente ou, mais perto de nós, as Canárias, a Galiza e a
Catalunha, nesta forma de proteção do oceano”, sublinham.Segundo
as organizações ambientalistas, apesar de ter sido aprovada, por
unanimidade, em maio de 2023, uma recomendação da ALRAA “para que se
declare nas águas da região uma moratória à mineração em mar profundo
que vigore até 2050, o Plano não implementa a tal recomendação e deixa
aberta a possibilidade de que empresas interessadas em realizar tais
atividades submetam pedidos de licenciamento”.E
prosseguem: “Ainda que o Plano não defina áreas específicas para a
atividade, declarando falta de conhecimento suficiente, todas as áreas
estariam aptas a receberem pedidos de prospeção ou exploração que serão
avaliados caso a caso e no âmbito de Planos de Afetação”.Na
sua opinião, esta abordagem indica “uma tentativa de protelar decisões
definitivas, mantendo aberta a possibilidade de prospeção/exploração de
minérios dos fundos marinhos açorianos”.Para
as ONGA, “tal escolha reflete uma consciência da provável contestação
pública com que uma abertura descarada à mineração em mar profundo seria
recebida, pelo que o Governo Regional e o Governo da República não
fecham a porta à mineração em mar profundo, antecipando eventuais
interesses e escudando-se nas omissões legais atuais”.A
mineração em mar profundo “destina-se a extrair minerais como cobre,
cobalto, níquel ou manganês do fundo do mar, com maquinaria pesada a
operar em condições muito adversas e arriscadas (elevada profundidade e
sujeitas a grande pressão), destruindo localmente ecossistemas e
perturbando outros a largas centenas de quilómetros em redor”.Caso
a prática avance, admitem que “a intensidade e os métodos de mineração
poderão destruir habitats completos, extinguir espécies e comprometer os
benefícios” que estes proporcionam, “prejudicando também as populações
locais, principalmente as comunidades costeiras”.