Mineração do mar dos Açores proibida até 1 de janeiro de 2050
20 de abr. de 2023, 17:34
— Lusa
“Saudamos a aprovação unânime,
pela Assembleia Legislativa dos Açores, da moratória à mineração no mar
dos Açores”, realçou Vera Pires, deputada do Bloco de Esquerda, uma das
proponentes da iniciativa, realçando que esta votação representa uma
posição “coesa, forte, pioneira no país e relevante na Europa e no
Mundo”.A proposta, apresentada em conjunto
pelo BE e o PAN, lembra que “cerca de 99% do mar dos Açores é concebido
como mar profundo, alcançando uma profundidade média de três mil
metros”, onde existem vários campos hidrotermais, considerados “habitats
singulares da Terra” com “comunidade únicas” e ecossistemas que é
necessário preservar.Pedro Neves, deputado
do PAN, entende que, mais do que as dúvidas jurídicas sobre quem tem a
gestão do mar dos Açores, o importante “foi a aprovação de uma posição
uníssona da Assembleia dos Açores, para todo o mundo”.Nuno
Barata, deputado da Iniciativa Liberal, aproveitou a discussão da
proposta, para tecer duras críticas ao Governo da República, que acusa
de pretender “saquear” o mar dos Açores. “Um
qualquer contrato assinado com um minerador predador pode resolver
problemas da economia daqui ou de acolá, desta ou daquela empresa, deste
ou daquele ministro, mas não resolve os problemas dos açorianos”,
advertiu o parlamentar liberal, que se opõe “ao processo que Portugal
está a tentar implementar para saquear o poder do mar dos Açores”.O
secretário regional do Mar e das Pescas, Manuel São João, rejeitou
também que o mar profundo ao redor dos Açores possa vir a ser explorado
de forma comercial, pelo menos enquanto não existir mais informação
científica sobre os impactos dessa atividade.“A
nossa posição é de que, enquanto não existirem estudos científicos e
competência e capacidade técnica que assegurem que o risco é inferior ao
benefício, não se avança com a mineração”, insistiu o governante.A
versão inicial da proposta conjunto do PE e do PAN incluía alguns
artigos relacionados com a criação de novas áreas marinhas protegidas no
mar dos Açores, mas os proponentes acabaram por retirar essa referência
ao diploma, para tentar obter o apoio da bancada socialista, que se
opõe à forma como o processo a decorrer.“Isto
está a ser feito em cima do joelho, de uma forma precipitada, sem
planos de gestão e sem ouvir os pescadores”, apontou Mário Tomé,
deputado do PS, que entende que a defesa dos ecossistemas marinhos deve
ser feita “com as populações piscatórias e não contra elas”.O
presidente do Governo Regional, o social-democrata José Manuel
Bolieiro, entende que a versão inicial da proposta não devia ter sido
alterada e que devia ter recebido, igualmente, o apoio unânime de todo o
parlamento.“A pertinência da redação na
sua versão inicial era positiva e já merecia este consenso”, frisou o
chefe do executivo, lamentando que tenha existido “um défice à causa,
por parte daqueles que ameaçavam não estar ao lado da proposta inicial”.Gustavo
Alves, deputado do PPM, elogiou o consenso alcançado em torno desta
matéria, embora tenha dito que preferia que a moratória não ficasse
dependente de uma data, mas de um objetivo concreto.“A
nossa vontade seria uma moratória condicionada aos desenvolvimentos
científicos, não tendo um espaço temporal, mas o que mais importa aqui é
manter o nosso mar com os seus recursos intactos”, frisou.Salomé
Matos, do PSD, realçou a importância que a decisão unânime do
parlamento terá para o futuro dos ecossistemas marinhos, considerando
que “é um forte sinal para a Europa e para o mundo, de que é mais aquilo
que nos unes do que aquilo que nos separa”.