Militares portugueses podem ter sido usados como "correio" em tráfico de diamantes
8 de nov. de 2021, 11:50
— Lusa/AO Online
Em comunicado, o Estado-Maior-General das
Forças Armadas (EMGFA) revelou que "o que está em causa de momento é a
possibilidade de alguns militares que participaram nas FND [Força
Nacional Destacada], na RCA, terem sido utilizados como correios no
tráfego de diamantes, ouro e estupefacientes" e que "estes produtos
foram alegadamente transportados nas aeronaves de regresso das FND a
território nacional".Vários órgãos de
comunicação social noticiaram que a Polícia Judiciária está a fazer
buscas no Regimento de Comandos, e noutros cerca de 100 locais, por
suspeitas de tráfico de diamantes e ouro em missões militares noutros
países, como na República Centro-Africana (RCA).De
acordo com a nota do EMGFA, "em dezembro de 2019 foi reportado ao
Comandante da 6ª Força Nacional Destacada (FND), na República Centro
Africana (MINUSCA), o eventual envolvimento de militares portugueses no
tráfico de diamantes"."O comandante da FND
relatou prontamente ao EMGFA a situação, tendo esta sido de imediato
denunciada à Polícia Judiciária Militar (PJM) para investigação. A PJM
fez a respetiva denúncia ao Ministério Público que nomeou como entidade
responsável pela investigação a Polícia Judiciária", explicou. Além
da denúncia imediata, lê-se ainda na nota, o EMGFA "mandou reforçar os
procedimentos de controlo e verificação à chegada dos militares das FND e
respetivas cargas".De acordo com o EMGFA,
"os inquéritos militares e respetivas consequências estão pendentes das
investigações em curso, com o cuidado de não interferir neste processo,
ainda em segredo de justiça". "Uma vez
esclarecidas as responsabilidades, as Forças Armadas tomarão as devidas
medidas sendo absolutamente intransigentes com desvios aos valores e
ética militar. As Forças Armadas repudiam totalmente estes
comportamentos contrários aos valores da Instituição Militar",
sublinham. Fonte ligada ao processo
confirmou à Lusa que a operação está a decorrer em vários locais do
país, entre os quais o regimento dos Comandos na Carregueira, Sintra, e
que conta com cerca de 100 mandados de busca e detenção. Em causa estão
suspeitas de tráfico de droga, ouro, diamantes e branqueamento de
capitais.Segundo a TVI, que avançou com a
notícia da operação, os visados são militares, comandos e ex-comandos,
militares da GNR e agentes da PSP que terão usado missões portuguesas da
ONU, nomeadamente na República Centro Africana (RDA) para cometerem os
crimes.Atualmente, de acordo com dados
disponibilizados pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas na sua
página oficial, estão empenhados na RCA 180 militares portugueses no
âmbito da MINUSCA e 45 meios. Também na RCA, mas no âmbito da missão de
treino da União Europeia (EUTM-RCA), estão atualmente empenhados 25
militares.A MINUSCA tem como objetivos
"apoiar a comunidade internacional na reforma do setor de segurança do
Estado, contribuindo para a segurança e estabilização" da República
Centro-Africana, informa ainda o EMGFA.A
RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do
ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que
suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação
anti-Balaka.Desde então, o território
centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes
grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da
RCA a abandonarem as suas casas.