Milhares de sites ensinam crianças a fingirem doenças para faltar às aulas
27 de mai. de 2018, 12:29
— Lusa / AO online
Há
sintomas de doenças que são fáceis de fingir, mas, na internet, também
se encontram manhas muito mais elaboradas: Numa pesquisa pela frase
"truques para faltar às aulas" surgem mais de 5,8 milhões de resultados.
Existem sites com longos textos e explicações detalhadas, há
páginas com curtos esclarecimentos, mas também relatos em tom irónico. No
Youtube, multiplicam-se os vídeos assistidos por milhões de pessoas: "5
desculpas para faltar a aula" tem mais de oito milhões de visualizações
e "10 Desculpas para não ir à Escola" foi visto mais de cinco milhões
de vezes. Na página "Como fingir estar doente para não ir à
escola" aprende-se a simular febre, enxaquecas, dores de estômago,
náuseas e cólicas, mas também diarreia, vómitos ou uma erupção cutânea. Francisco, de 11 anos, já tentou usar uma dessas técnicas. Ainda
não eram sete da manhã quando se levantou para preparar uma mistela
semelhante a comida fermentada pelos ácidos do estômago. "Misturei
bolachas com vinagre e depois espalhei pela sanita", contou à Lusa,
explicando que "o vinagre dá aquele cheiro parecido com o vomitado". Acordados pelo som de um vómito, os pais saltaram da cama e quando chegaram à casa de banho não desconfiaram de nada. Estavam
criadas as condições para não ir à escola. Mas a mãe encontrou um
frasco de vinagre fora do sítio e estranhou. Confrontado pelos pais,
ficou em silêncio, não negou e acabou por ir para a escola. À
Lusa, Francisco diz que foi a primeira vez que tentou usar um truque da
net e que na escola quase todos os seus colegas também já o fizeram e
com sucesso. "Com alguma facilidade as crianças encontram uma
desculpa para faltar às aulas. Dizem que têm uma dor de cabeça ou de
barriga, porque sabem que dizer simplesmente que não querem ir à escola
não será aceite pela família", explica o presidente da Confederação
Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascensão. Jorge
Ascensão desvaloriza os casos pontuais em que um aluno acorda um dia de
manhã sem vontade de ir às aulas, mas alerta os pais para os casos de
crianças que sistematicamente arranjam desculpas para faltar à escola. "É
preciso perceber o que se passa, porque existe sempre uma razão",
sublinha, lembrando que pode ser um problema na relação com colegas,
professores ou funcionários, pode ser um caso de 'bullying' ou
dificuldades de aprendizagem. As situações pontuais estão, muitas
vezes, relacionadas com irresponsabilidade: Não estudaram para um
teste, não fizeram o trabalho de casa ou vão ter uma disciplina que não
gostam. No caso do Francisco, o jovem decidiu ludibriar os pais
porque tinha uma apresentação oral para a disciplina de Inglês que não
tinha preparado. "Achei que ia ser uma vergonha e não queria ir",
recorda à Lusa. Leonor, aluna do 8.º ano, conta à Lusa que
faltou uma vez porque não se sentia suficientemente preparada para ter
um bom desempenho no teste. Uma forte dor de barriga foi a desculpa que
deu aos pais e que lhe garantiu mais uns dias para estudar. Na
internet também se aprende a enganar professores e enfermeiras das
escolas para conseguir regressar a casa antes do fim das aulas, dizendo
que não se sente bem, que está com tonturas ou que acabou de vomitar. Mas,
também os pais podem recorrer à internet e descobrir se estão a ser
enganados: No site "WikiHow como fazer de tudo" existe uma página sobre
"Como detetar alguém fingindo estar doente para matar aula". "Se
a criança tiver um computador, um 'tablet' ou algo para usar internet,
verifique o histórico. Se vir algo sobre como fingir estar doente, então
está fingindo", refere o site. "As crianças geralmente fingem
estar doentes em dias em que há provas, aula de educação física ou
outras matérias 'desagradáveis'", lê-se na página. Jorge Ascensão
admite que, algumas vezes, também as crianças precisam de uma folga da
escola, mas é preciso garantir que tal não se torna um hábito.