Miguel Arruda fez pedido inútil para o levantamento da sua imunidade parlamentar
29 de jan. de 2025, 15:30
— Lusa/AO Online
Segundo adiantaram à agência Lusa fontes de várias bancadas, o provável pedido para o
levantamento da imunidade parlamentar de Miguel Arruda terá sempre
de partir do juiz de instrução competente (e não do deputado visado),
sendo dirigido ao presidente da Assembleia da República - e depois,
então, remetido à Comissão Parlamentar de Transparência.Recebido
o pedido de levantamento da imunidade, o deputado visado é auscultado
pela Comissão Parlamentar de Transparência, podendo manifestar
eventualmente a sua oposição, ou, pelo contrário, expressar a sua não
oposição e vontade de ser ouvido pelo tribunal.Se
o deputado expressar a sua vontade no sentido de que lhe seja levantada
a sua imunidade parlamentar, essa manifestação de vontade é considerada
irrelevante em termos de decisão da Comissão Parlamentar de
Transparência.Na situação de Miguel
Arruda, que desde sexta-feira passou à condição de deputado não
inscrito, desvinculando-se da bancada do Chega, o levantamento da sua
imunidade parlamentar poderá até ser automática, caso se confirme a
suspeita de furto qualificado.De acordo
com o Estatuto dos Deputados, a suspensão é obrigatória quando se tratar
de “crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo
seja superior a três anos”.No artigo 11ª
refere-se o seguinte: “Nenhum deputado pode ser detido ou preso sem
autorização da Assembleia, salvo por crime doloso a que corresponda pena
de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos e em flagrante
delito”.A seguir acrescenta-se que “os
deputados não podem ser ouvidos como declarantes nem como arguidos sem
autorização da Assembleia, sendo obrigatória a decisão de autorização,
no segundo caso, quando houver fortes indícios de prática de crime
doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior
a três anos.Na terça-feira passada, o
deputado Miguel Arruda, cabeça de lista pelo Chega nos Açores, foi
constituído arguido por suspeita do furto de malas no aeroporto de
Lisboa, e nesse mesmo dia a PSP realizou buscas nas casas do deputado em
São Miguel e em Lisboa.Em causa estão
suspeitas de crimes de furto qualificado e contra a propriedade. Miguel
Arruda terá furtado malas dos tapetes de bagagens das chegadas do
aeroporto de Lisboa quando viajava vindo dos Açores no início das
semanas de trabalhos parlamentares.A PSP
indicou que o deputado do Chega não foi logo detido, porque primeiro era
necessário o levantamento da sua imunidade parlamentar. Uma
interpretação que vários deputados contactados pela agência Lusa
consideraram “discutível”. Ou seja, de acordo com esta interpretação,
Miguel Arruda poderia ter sido detido em flagrante delito no passado dia
21.Na terça-feira, o Ministério Público
revelou que acordou com a Assembleia da República, através da
Procuradoria-Geral da República o dia de segunda-feira para apreender
malas e outros objetos no gabinete do deputado eleito pelo Chega Miguel
Arruda no parlamento. O parlamento indicou 27 de janeiro [segunda-feira]
para a realização da diligência.Também na
terça-feira, o presidente do Chega, André Ventura, reivindicou a
principal responsabilidade pela intervenção da PSP no gabinete de Miguel
Arruda.A seguir, no entanto, o presidente
da Assembleia da República, Aguiar-Branco, confirmou que
falou com o “vice” da bancada do Chega Rui Paulo Sousa, na quinta-feira,
mas considerou a conversa “absolutamente irrelevante” para a
investigação ao alegado furto de malas por parte do deputado Miguel
Arruda.Segundo Aguiar-Branco, houve um
despacho para que se procedesse à apreensão de alguns bens que estavam
supostamente no parlamento e num determinado gabinete.“Foi
solicitada a colaboração da Assembleia da República para o efeito.
Dentro daquilo que era o quadro legal, a Assembleia fê-lo. Foi
solicitada a notificação do senhor deputado Miguel Arruda para poder
estar presente ou um mandatário e também do grupo parlamentar do Chega. O
que foi feito, foi conforme aquilo que foi solicitado pela
Procuradoria-Geral da República, acompanhado por uma senhora magistrada e
dentro do quadro legal que na situação exigia, nem foi levantado nenhum
incidente quanto a isso”, descreveu.O resto, para Aguiar Branco, é "retórica política".