Miguel Albuquerque contesta possibilidade de eleições por "teimosia inconsequente"
4 de jul. de 2024, 10:09
— Lusa/AO Online
“Este
é um tempo para governar, não um tempo para recorrermos a novas
eleições regionais, o que poderá acontecer se a teimosia inconsequente
se sobrepuser ao interesse regional”, declarou, ao discursar na abertura
da discussão da segunda proposta do Programa do Governo Regional, no
parlamento do arquipélago, no Funchal.A 19 de junho, Miguel Albuquerque anunciou a retirada da proposta inicial
por ter o chumbo anunciado por PS, JPP e Chega, que somam 24 deputados
num universo de 47 lugares, o que significa uma maioria absoluta.Face
a este cenário, o Governo Regional convidou todos os partidos com
assento parlamentar para reuniões visando consensualizar medidas para
incluir numa nova versão. PS e JPP rejeitaram o convite.Após
uma semana de negociações, o Governo Regional entregou na terça-feira
um segundo documento que inclui 19 medidas sugeridas por CDS-PP, IL, PAN
e Chega, e que será hoje votado em forma de moção de confiança. O
Chega insistiu ao longo do processo negocial no afastamento de
Albuquerque para viabilizar a proposta, um cenário recusado pelo PSD, o
que levou o presidente do governo do arquipélago a submeter um novo
Programa mesmo sem “certezas taxativas” de aprovação.Contudo,
num comunicado divulgado hoje pelo Diário de Notícias da Madeira, o
Chega acrescentou que este afastamento deve acontecer apenas se
Albuquerque – arguido num processo sobre alegada corrupção - for
efetivamente acusado pelo Ministério Público.Na
sua intervenção no parlamento, o presidente do Governo Regional
salientou que “a campanha eleitoral terminou com o veredicto do povo no
dia das eleições”, em 26 de maio, devendo os partidos “assumir as suas
responsabilidades e fazer uma leitura serena dos resultados”.O
PSD, partido que governa a Madeira há 48 anos, continuou em maio a ser o
partido mais votado, mas não conseguiu maioria absoluta.Segundo
o líder regional, num regime parlamentar como o da Madeira, “a formação
de maiorias de um só partido é difícil e o diálogo interpartidário
assume um papel muito importante”, pelo que o PSD “tem de mostrar
disponibilidade para dialogar e assumir compromissos que assegurem a
governabilidade”.Por seu turno,
acrescentou, os partidos minoritários devem “também assegurar que os
pilares mínimos da governabilidade democrática não são postos em causa”.
O social-democrata sublinhou que “atitudes enviesadas não são
saudáveis, e só podem levar a situações de bloqueio que “não beneficiam
ninguém” e “à fragilização da democracia e dos partidos democráticos”.Para
o governante, o atual momento político da Madeira “exige dos partidos
parlamentares a disponibilidade para chegarem a entendimento”.“Que
sejamos capazes de ultrapassar com responsabilidade as nossas saudáveis
diferenças, face à conjuntura, e encontrar pontos de convergência que
permitam dar estabilidade e governabilidade à nossa região”, vincou,
sublinhando que, para os madeirenses, “a crise política se arrasta há
demasiado tempo”.Na sua opinião, a
população está cansada da “’partidarite’ exacerbada e de clivagens
exageradas que só contribuem para aumentar a tensão social”, sendo
necessário normalizar a vida pública regional, com um executivo em
plenitude e um Orçamento aprovado.“Para a
generalidade dos cidadãos, é inconcebível que a região permaneça num
limbo por mera irresponsabilidade política e falta de sentido de
Estado”, destacou.Nas eleições regionais
antecipadas de maio, o PSD elegeu 19 deputados, ficando a cinco mandatos
de conseguir a maioria absoluta, o PS conseguiu 11, o JPP nove, o Chega
quatro e o CDS-PP dois, enquanto a IL e o PAN elegeram um deputado
cada.Depois do sufrágio, o PSD firmou um
acordo parlamentar com os democratas-cristãos, ficando ainda assim aquém
da maioria absoluta. Os dois partidos somam 21 assentos, enquanto PS e
JPP reúnem 20, pelo que basta a abstenção das restantes forças para
viabilizar o Programa do Governo.As
eleições de maio realizaram-se oito meses após as legislativas
madeirenses de setembro de 2023, depois de o Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na
sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando Albuquerque
foi constituído arguido, acabando depois por se demitir.No contexto da crise, não chegou a ser votado um Orçamento Regional para este ano.