Microplásticos detetados nas águas da Lagoa Azul das Sete Cidades
12 de jul. de 2023, 17:00
— Lusa
A
descoberta foi feita por investigadores do MED – Instituto Mediterrâneo
para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento e do Centro de
Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-Açores), das
universidades de Évora e dos Açores, respetivamente.Em
comunicado enviado à agência Lusa, o MED explicou que o trabalho foi
feito no âmbito de um estudo mundial liderado por Verónica Nava,
investigadora da Universidade de Milão-Bicocca, em Itália.Com
a participação de uma equipa de quase 80 investigadores, o estudo, cujo
artigo científico foi hoje publicado na revista Nature, analisou a água
de 38 lagos de 23 países de todo o mundo, entre os quais a albufeira do
Alqueva e a Lagoa Azul.“Uma vez
recolhidas as amostras, as diferentes equipas enviaram-nas para a
Universidade de Milão-Bicocca, onde, com recurso a tecnologias como a
[técnica] microespectroscopia raman, foi efetuada uma análise
extremamente precisa que confirmou a composição polimérica dos
microplásticos”, revelou Miguel Matias, do MED, citado no comunicado.Entre os resultados obtidos, adiantou, destaca-se a presença de poliéster, polipropileno e polietileno.Segundo
o MED, a albufeira do Alqueva ocupa o 13.º lugar na tabela das 38
massas de água analisadas com mais acumulação de detritos plásticos,
enquanto a Lagoa Azul, na ilha de São Miguel, Açores, ficou na 9.º
posição da mesma lista.“Nos casos
particulares do Alqueva e da Lagoa Azul, não será surpresa para ninguém a
presença de microplásticos. No entanto, é preocupante que os valores
encontrados sejam relativamente altos para estas zonas de baixo nível de
urbanização”, alertaram os investigadores portugueses envolvidos no
estudo.Salientando que o trabalho não
permite esclarecer a origem dos microplásticos, os cientistas admitiram
que “o uso generalizado e intensivo de plásticos em explorações
agrícolas nas respetivas bacias hidrográficas e a intensificação do
turismo e atividades de recreio sejam origens importantes desta
contaminação”.“Esperamos que este estudo
contribua para uma maior sensibilização e visibilidade do problema dos
microplásticos, para a investigação das fontes de contaminação e para a
definição de estratégias de mitigação que reduzam a contaminação das
águas doces”, concluíram os investigadores do MED e do CIBIO-Açores.O
estudo mostrou, pela primeira vez, que em alguns casos as concentrações
de plástico encontradas em algumas das massas de água doce analisadas
são mais elevadas do que em locais do oceano, já identificados, que
acumulam grandes quantidades de resíduos e são conhecidos como “ilhas de
plástico”.De acordo com os
investigadores, a libertação de metano e de outros gases com efeito de
estufa por parte de plásticos que se encontram à superfície é um dos
impactos negativos da presença destes detritos nos sistemas aquáticos.“É
urgente compreender o destino dos detritos plásticos e determinar todos
os seus impactos ecológicos”, defenderam, considerando “essencial a
otimização das políticas de gestão para mitigar a poluição por plásticos
nos lagos de água doce a montante dos sistemas marinhos”.