Meteorologia e espécies invasoras ameaçam produção vinho no Pico
28 de jul. de 2024, 09:21
— Lusa
“Vamos
com vários anos de poucas produções por hectare e este ano será mais um
ano mau”, reconheceu, em declarações à agência Lusa, Losménio Goulart,
presidente da Picowines, cooperativa criada há 75 anos por 21 sócios.A
cooperativa, que nasceu em 1949 e que conta atualmente com 270 sócios
ativos, tem 18 referências de vinhos certificados a serem
comercializados.O responsável da
cooperativa, que representa mais de 50% dos vinhos certificados da
região, explicou à agência Lusa que os últimos anos vitícolas “têm sido
difíceis”, porque “tem acontecido de tudo um pouco”.“Uma
vez é o míldio que ataca, outra vez é a maresia, outra vez são os
nevoeiros de São João, outra vez as chuvas em excesso em cima da
vindima”, assinalou, acrescentando que, por outro lado, "as espécies
invasoras têm também prejudicado muito a produção”, apontando os casos
do pombo trocaz, da rola ou do melro preto.Losménio Goulart, porém, admitiu que "na ilha do Pico as produções por hectare são sempre baixas"."Mesmo
num ano considerado bom, chegaremos, talvez, aos 2.500 quilogramas por
hectare e isto não tem comparação com outras regiões do continente que
chegam às 15, 20 toneladas por hectare. Isto torna difícil a viabilidade
económica das explorações", referiu ainda.De
acordo com o presidente da CVIP Picowines, "o melhor ano foi em 2019,
em que a cooperativa recebeu mais de 600 toneladas de uvas".Mas,
a partir daí, têm sido "anos maus", já que em 2020 recebeu "um total de
340 toneladas, em 2021 um total de 230 toneladas e 2022 um total de 126
toneladas", indicou.Em 2023 a cooperativa recebeu 256 toneladas de uvas e para este ano a estimativa aponta para as 120 a 130 toneladas.Losménio
Goulart acrescentou que "são muitos anos maus", se for tido em conta
que se trata de produções por hectare, números que "inviabilizam
qualquer negócio ou exploração"."Portanto,
todos os anos tem acontecido de tudo um pouco", vincou, destacando o
projeto-piloto que está a ser desenvolvido pela Secretaria Regional da
Agricultura, no sentido de serem colocadas estações meteorológicas que
poderão permitir uma maior previsibilidade e potenciar o aumento da
produção por hectare. A Adega Cooperativa
iniciou a sua produção em 1961 com as castas nobres Verdelho, Arinto dos
Açores e Terrantez do Pico. O primeiro vinho da CVIP, com o nome
“Pico”, foi lançado no mercado em 1965.A
paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico, classificada pela UNESCO
desde 2004, como Património da Humanidade, está implantada em campos de
lava, ocupando uma área de 987 hectares, envolvida por uma zona tampão
com 1.924 hectares.