Metadona vai voltar a ser dispensada e administrada em farmácias comunitárias
Hoje 17:36
— Lusa/AO Online
A
medida resulta de um protocolo que será assinado na segunda-feira entre
o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), a
Associação Nacional das Farmácias (ANF) e a Associação de Farmácias de
Portugal (AFP), no âmbito de Programas de Tratamento com Cloridrato de
Metadona em Farmácias Comunitárias.Em
declarações à agência Lusa, o presidente do ICAD, João Goulão, afirmou
que o modelo proporcionará aos utentes “maior comodidade” aos utentes
pela proximidade que as farmácias proporcionam.“Em
vez de terem que ir às unidades específicas diariamente, fazer a sua
toma, levantar as suas doses, podem ir à farmácia da área de residência
ou do emprego e isto interfere muito menos com as suas rotinas diárias”,
disse João Goulão.A presidente da ANF,
Ema Paulino, acrescentou que o objetivo é aumentar a acessibilidade à
metadona, sobretudo em zonas com maior pressão sobre os centros de
tratamento. Ema Paulino salientou que a
capilaridade das farmácias e a qualificação das suas equipas permitem
horários alargados e acompanhamento seguro, facilitando a reintegração
social da população em tratamento.“O
objetivo é facilitar o acesso a esta população que normalmente já está a
ser reintegrada na sociedade e que poderá beneficiar destes horários
alargados e da capilaridade das farmácias para ter esta toma observada
nas farmácias”, sustentou.Segundo a
presidente da ANF, o arranque do modelo será feito em algumas zonas
identificadas pelo ICAD como prioritárias e deverá acontecer ainda este
ano, com expansão progressiva a todo o país em 2026.
“Serão zonas em que eventualmente haja já neste momento alguma pressão
sobre os centros de tratamento e que faça sentido aumentar os pontos
onde as pessoas possam aceder a este acompanhamento e depois
progressivamente ir estendendo para todo o território nacional”,
referiu.Ema Paulino adiantou que a
intervenção das farmácias seguirá normas da Ordem dos Farmacêuticos,
garantindo formação e capacitação das equipas, e apenas farmácias com
profissionais qualificados participarão do programa.O
presidente do ICAD explicou que a metadona é prescrita, sobretudo, nas
unidades de tratamento de toxicodependentes do ICAD, complementada por
administração realizada por organizações não-governamentais sob
supervisão do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as
Dependências.Existiam também unidades
móveis — as chamadas carrinhas de metadona — que percorrem zonas
urbanas, garantindo a toma diária a utentes com maior dificuldade de
deslocação.A metadona já tinha sido administrada nas farmácias, mas foi interrompida em 2012, durante a intervenção da Troika. O
evento da assinatura do protocolo contará com a presença da Secretária
de Estado da Saúde, Ana Povo, cuja participação, segundo o ICAD,
“sublinha a relevância estratégica desta medida no reforço da resposta
nacional em matéria de comportamentos aditivos e dependências”. “A
sessão contará ainda com representantes do Infarmed – Autoridade
Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, e da Ordem dos
Farmacêuticos, reforçando o alinhamento interinstitucional necessário
para a implementação segura, eficaz e concertada deste novo modelo de
prestação de cuidados”, refere o ICAD em comunicado. De
acordo com o último Relatório Anual da Situação do País em Matéria de
Drogas e Toxicodependências do ICAD, 11.501 utentes estavam integrados
em programa terapêuticos com metadona em 2023.