Metade dos portugueses sente impacto psicológico “moderado a severo”
Covid-19
30 de abr. de 2020, 09:30
— Lusa/AO Online
Esta é uma
das conclusões, "e talvez a mais preocupante", do estudo, destacou em
comunicado Mauro Paulino, coordenador da Mind e um dos responsáveis da
investigação, que também contou com a colaboração do Centro de
Investigação em Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa e do
Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.Através
de um questionário ‘online', que esteve disponível durante três dias
(entre 24 e 27 de março), ou seja, três semanas após terem sido
confirmados os dois primeiros casos em Portugal e oito dias após a
primeira morte por causa do novo coronavírus, foram obtidas 10.529
participações, com uma média de idades de 31,3 anos, e na sua maioria
mulheres (8.785, correspondentes a 83,4% do total).Mauro
Paulino sublinhou que este trabalho contou com "uma das mais
expressivas amostras, inclusive internacionalmente, sobre os danos
psicológicos imediatos da covid-19 sobre a população em geral", tendo
como objetivo avaliar o impacto psicológico imediato da pandemia de
covid-19 na sua fase inicial, bem como a sintomatologia de ansiedade,
depressão e ‘stress’ entre os portugueses."Agora,
é possível pronunciarmo-nos com base em dados rigorosos e nacionais",
assinalou o psicólogo Rodrigo Dumas-Diniz, também responsável da
investigação.Os resultados obtidos
permitem identificar vários fatores de risco, "mostrando que é
necessária uma atenção especial para as mulheres, os desempregados, os
que têm menos escolaridade, os que vivem em zonas rurais e os que
experienciaram sintomas de gripe ou doenças crónicas", lê-se no
comunicado.Já a comparação dos resultados
obtidos em Portugal com investigações chinesas mostra "diferenças
importantes", sublinharam os responsáveis, revelando que apenas 7,6% dos
participantes chineses relataram um impacto psicológico moderado a
severo.A explicação para a discrepância
neste capítulo pode estar relacionada com a maior quantidade de
informação dos participantes portugueses, uma vez que o surto chegou a
Portugal várias semanas depois de ter surgido na China, e após uma
grande cobertura mediática sobre o tema."A
quantidade e a qualidade da informação recebida influenciam as reações
psicológicas dos consumidores, pelo que, é recomendável que a mesma
esteja limitada a informações oficiais e credíveis", frisou Mauro
Paulino.O estudo português mostra, tal
como as investigações na China, que as participantes do sexo feminino
relataram um maior impacto psicológico da pandemia, bem como maiores
níveis de depressão, ansiedade e stresse."As
mulheres parecem correr um risco elevado de sintomas psicológicos, o
que nos orienta sobre a urgência da intervenção", comentou Rodrigo
Dumas-Diniz.No total, 11,7%, 16,9% e 29,2%
dos participantes relataram sintomas moderados a graves de depressão,
ansiedade e níveis de ‘stress’, respetivamente."Existe
o risco de que a prevalência de números clinicamente relevantes de
pessoas com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental
aumente", alertaram os investigadores, considerando que os dados também
indicam que os indivíduos sem perturbações mentais anteriores mostraram
um impacto psicológico negativo imediato devido à pandemia.Por
seu turno, Sofia Brissos, médica psiquiatra que também integra a equipa
de investigação, considerou que "serão os estudos longitudinais que
irão demonstrar se, após o impacto inicial da pandemia, existe uma
tendência para a estabilização, uma diminuição ou um agravamento dos
sintomas psicológicos, especialmente, quando se sabe que os efeitos
psicológicos podem persistir mesmo após o fim da pandemia".