Metade dos gastos do Pentágono desde 2001 foi para empresas da área da Defesa
14 de set. de 2021, 08:53
— Lusa/AO Online
Enquanto muito
deste dinheiro foi para os fabricantes de armas, esta investigação foi a
mais recente a apontar que a dependência dos vendedores de armas no
cumprimento dos deveres em zona de guerra contribuiu para os fracassos
nas missões, em particular no Afeganistão. Nas
guerras subsequentes aos ataques terroristas de 11 de setembro, as
empresas norte-americanas contratadas pelo Departamento da Defesa geriam
a logística em zonas de guerra, como colunas motorizadas de
abastecimento de combustível ou filas de abastecimento alimentar, bem
como trabalho crucial para a missão como formar e equipar as forças de
segurança afegãs – forças estas que colapsaram no último mês enquanto os
talibã dominavam o país. Em
poucas semanas, e inclusive antes de os militares dos EUA terem
completado a sua retirada do Afeganistão, os talibã derrotaram
facilmente o governo e os militares afegãos, aos quais os EUA dedicaram
20 anos e biliões de dólares. O
presidente dos EUA, Joe Biden, acusou diretamente os próprios afegãos.
“Demos-lhes todas as hipóteses”, disse no último mês. “O que não lhes
pudemos fornecer foi a vontade de combater”. Mas
William Hartung, o autor do estudo desenvolvido no âmbito do projeto
Custos da Guerra, da Universidade de Brown e do Centro de Política
Internacional (CPI), e outros salientaram que é essencial que os EUA
examinem o papel que a dependência dos parceiros privados teve nas
guerras posteriores ao 11 de setembro. No
Afeganistão, isto inclui os privados que compraram proteção aos
senhores da guerra, inclusive aos talibã, e a insistência do
Departamento da Defesa em equipar a força aérea afegã com complexos
helicópteros Blackhawk e outras aeronaves que poucos, além dos privados
norte-americanos, sabem manter. “Mesmo
que fosse só pelo dinheiro, isto já seria ultrajante o suficiente”,
considerou Hartung, que dirige o programa de armas e segurança no CPI, a
propósito das situações em que a dependência manifestada pelo Pentágono
em relação aos privados deu mau resultado. “Mas o facto de (esta
dependência) ter minado a missão e colocado os militares em risco é
ainda mais ultrajante”, acentuou. No
início deste ano, antes de Biden ter começado a retirada dos EUA do
Afeganistão, havia mais privados norte-americanos contratados no
Afeganistão e Iraque do que militares dos EUA. Outro
estudo do Custos da Guerra apurou que em todos os conflitos posteriores
ao 11 de setembro morreram cerca de sete mil militares e oito mil
contratados privados, também designados por mercenários. Uma
porta-voz do Conselho de Serviços Profissionais (Professional Services
Council), que representa as empresas que contratam com o governo na área
da Defesa, mencionou um número inferior de contratados mortos desde
2001, abaixo de quatro mil. Mencionou
também uma declaração do presidente da organização, David J. Berteau,
feita em agosto, segundo o qual, “durante quase duas décadas, os
contratados pelo governo forneceram um apoio alargado e essencial às
forças dos EUA e aliadas, aos militares afegãos e outros elementos do
governo afegão e à assistência humanitária e para o desenvolvimento
económico”. Os
dirigentes dos EUA, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001,
recorreram aos contratados para preencher uma parte essencial da sua
resposta militar. O
recurso começou com o então vice-presidente Dick Cheney, o antigo
presidente executivo da Halliburton. Esta empresa recebeu mais de 30 mil
milhões de dólares para construir e gerir bases, alimentar tropas e
fazer outras tarefas no Iraque e Afeganistão em 2008, apontou-se no
estudo. Cheney
e os fornecedores dos serviços de guerra e defesa argumentaram que o
recurso aos privados, para estes fazerem as tarefas que os militares
faziam nas guerras anteriores, permitiria um efetivo militar
norte-americano mais pequeno, mais eficiente e mais barato. Em
2010, as despesas do Pentágono aumentaram em mais de um terço, devido
ao envolvimento dos EUA em duas guerras simultâneas, no Afeganistão e no
Iraque. Nos
EUA depois do 11 de setembro, os políticos acompanharam o apoio
crescente aos militares com o país mais sensível às questões de
segurança. “Qualquer
congressista que não vote a favor dos fundos que precisamos para
defender este país, vai ter de procurar um novo emprego depois de
novembro”, dizia o então vice-presidente da Boeing, Harry Stonecipher,
em declarações ao The Wall Street Journal no mês seguinte ao dos
ataques, recordaram os autores do estudo. E
cerca de um terço dos contratos do Pentágono foram feitos com cinco
fabricantes de armas. No último ano orçamental, só o dinheiro recebido
pela Lockheed Martin dos contratos com o Pentágono superou os orçamentos
do Departamento de Estado e da Agência para o Desenvolvimento
Internacional (USAID, na sigla em Inglês), sempre segundo o estudo. O Pentágono fez mais contratos do que podia controlar, têm defendido congressistas e investigadores especiais do governo.