Metade dos açorianos não consegue pagar uma semana de férias fora de casa
Hoje 14:54
— Filipe Torres
Metade da população dos Açores vive sem capacidade económica para
pagar uma semana de férias fora de casa por ano, um valor que coloca a
região muito acima da média nacional e no topo das privações registadas
em Portugal. De acordo com os dados mais recentes do Inquérito às
Condições de Vida e Rendimento de 2024, do Instituto Nacional de
Estatística (INE), 50% dos açorianos dizem não ter condições financeiras
para suportar este tipo de despesa, quando no conjunto do país essa
percentagem se fica pelos 35,2%. Em comparação com o restante país,
os Açores surgem mesmo como a região com o valor mais elevado neste
indicador. A Madeira aproxima-se dos números açorianos, com 46,9%, mas
ainda assim fica abaixo. A perda de capacidade financeira nos Açores
estende-se de forma sistemática à generalidade dos restantes
indicadores de privação material e social. Na impossibilidade de
assegurar o pagamento imediato de uma despesa equivalente ao valor
mensal da linha de pobreza sem recorrer a empréstimos, a média nacional é
de 28,7%, enquanto nos Açores sobe para 43%, apenas atrás da Madeira
(44%).No que respeita à dificuldade em pagar atempadamente rendas,
prestações de crédito ou despesas correntes da habitação, a média
nacional é de 5,7%, enquanto nos Açores esse valor é de 4,8%, o segundo
mais baixo do país, apenas atrás do Alentejo (4,5%), indicando que a
região apresenta, neste indicador específico, uma capacidade de
pagamento acima da média nacional.Na incapacidade de manter a casa
adequadamente aquecida, Portugal regista 15,7% da população, ao passo
que, nos Açores, esse valor sobe para 22,9%, o mais alto do país.Na
falta de capacidade económica para ter automóvel para uso pessoal, a
média nacional situa-se nos 4,7%, e os Açores apresentam 7,3%, sendo a
região com o maior valor neste indicador.Já na impossibilidade de
garantir uma refeição de carne, peixe ou equivalente vegetariano de dois
em dois dias, Portugal regista 2,5%, enquanto, nos Açores, o valor sobe
para 6,9%, o mais elevado entre todas as regiões.Na dificuldade em
substituir o mobiliário usado, a média nacional é de 36,2% e, nos
Açores, o valor sobe para 41,6%, acima do país e entre os mais elevados,
apenas atrás da Madeira (47%).No indicador de “sem capacidade
económica para substituir roupa usada por alguma roupa nova (excluindo a
roupa em segunda mão)”, a média nacional é de 6,1% e os Açores registam
9,6%, apenas atrás da Madeira (10,1%).Na incapacidade de gastar
semanalmente uma pequena quantia de dinheiro consigo próprio, os Açores
registam um valor de 12,6%, enquanto a média nacional é de 9,5%. Mais
uma vez, os açorianos apresentam o indicador mais elevado.Na
impossibilidade de participar regularmente numa atividade de lazer, a
média nacional é de 10,1% e os Açores apresentam exatamente o mesmo
valor.Na dificuldade de se encontrar com amigos ou familiares para
uma bebida ou refeição pelo menos uma vez por mês, os Açores lideram
este indicador, com 9,3%, enquanto a média nacional é de 5,3%.Por
fim, no acesso à Internet para uso pessoal em casa, a privação atinge
2,1% da população em Portugal e desce para 1,9% nos Açores.Os dados
do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento de 2024 confirmam que os
Açores é uma das regiões do país com os piores números em vários
indicadores de privação material e social.