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“Mercado da saudade está a desaparecer”

O presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra disse que “o mercado da saudade está a desaparecer” e que é preciso promover a marca Açores nos EUA de forma mais alargada. 


Autor: Lusa/AO Online

“Temos que ir conquistar o mercado do reencontro, do reencontro dos cheiros, dos sabores, daquilo que as avós deixaram”, afirmou Francisco Viveiros, na primeira sessão da nova temporada de “As Nossas Vozes”, um projeto sobre a diáspora lusa nos Estados Unidos.

“Não vejo a Associação de Turismo dos Açores a apostar nas migrações na América do Norte”, disse Viveiros, referindo que subsiste a ideia errada de que o mercado da saudade é suficiente. “O mercado da saudade está a desaparecer”, frisou. 

Viveiros considerou que é preciso atrair as gerações mais jovens, que se afastaram dos polos de emigração nos Estados Unidos e não têm tanto interesse nas tradições religiosas das associações luso-americanas. 

“É esta gente que temos que chamar”, disse o responsável. “Prefiro falar neles em termos de marcar a identidade açoriana, fazer com que tenham orgulho dos Açores e do seu país”, acrescentou. 

Isso faz-se através do turismo e dos produtos açorianos, defendeu Viveiros.

“Não há um marketing para fazer perceber o que é a marca Açores, que valor tem aquele selo”, considerou o presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra.

“Isto faria com que realmente estas novas gerações se chegassem mais e fossem à procura daquele produto, daquele cheiro, daquele sabor de que talvez ainda se lembram da avó mas que perderam”, acrescentou. 

Por outro lado, considerou Viveiros, será importante apostar na promoção da cultura contemporânea, já que os jovens das novas gerações que visitam os Açores vêm “encantados” com a região.

“Não podemos continuar a pensar que é só folclore e marchas”, afirmou o responsável.

“É importantíssimo, mas temos que mostrar o lado mais moderno e fazer com que as novas gerações sintam esta necessidade de se identificarem e forçarem a sua identidade açoriana”, acrescentou. 

É nesse âmbito que funciona o festival de artes Fabric, organizado pela Casa dos Açores da Nova Inglaterra e cuja quarta edição arranca a 05 de outubro, com uma duração de 10 dias.

Este ano, o festival vai expandir-se de Fall River para New Bedford, também no estado de Massachusetts, e Providence, no estado de Rhode Island. 

“É uma maneira de chegar às novas gerações. Não é um festival de massas mas faz projeção da nossa área, das nossas atividades nos Açores”, indicou Viveiros.

“A edição deste ano está muito bem delineada e vai atingir vários níveis de público”, continuou o responsável, referindo que uma das principais atrações será a atuação da fadista portuguesa Gisela João. 

“Há instalações, há espetáculos, quer de açorianos que vêm, quer de descendentes que estão espalhados pelos Estados Unidos”, descreveu o presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra.

“Há todo um leque de atividades que abrange várias áreas e fazem com que muitos jovens venham visitar Fall River”, acrescentou. 

Este dinamismo poderia ter maior apoio das instituições portuguesas, considerou Viveiros, lamentando a pouca atenção que o governo de Portugal tem dado à diáspora e às entidades que mantêm viva a cultura portuguesa nos Estados Unidos.

Ainda assim, referiu que o apoio do governo regional dos Açores é muito importante e bastante sentido pelas associações. 

“O governo regional entende que as Casas dos Açores são os embaixadores do governo na diáspora”, sublinhou Viveiros. 

“É nosso papel também mostrar não o Portugal do antigamente mas mais os Açores de hoje”, referiu o responsável. “Uma região moderna, um país moderno que é desconhecido de muita gente, principalmente das novas gerações”, acrescentou. 

Francisco Viveiros, natural de Ponta Delgada e radicado nos Estados Unidos desde 2006, foi o primeiro convidado da nova série do projeto “As Nossas Vozes”, organizado pelo Conselho de Liderança Luso-americano e pelo Instituto Português Além-Fronteiras.

Esta série de seminários 'online' é totalmente falada em língua portuguesa e debruça-se sobre as vivências lusas nos Estados Unidos.