"Mensagens sobre a pandemia têm de ser mais direcionadas"
Covid-19
3 de nov. de 2020, 11:56
— Lusa/AO Online
“Ajudará
que as pessoas não se sintam tão depressa exaustas se a comunicação for
ajustada, se a comunicação tiver a ver com o alvo”, explicou Francisco
Rodrigues.Em declarações à agência Lusa, o
bastonário comentava um estudo da Organização Mundial da Saúde que
revela que 60% já sente cansaço em relação à pandemia, que em Portugal
já dura há cerca de oito meses.“Numa crise
como a que estamos a viver, em que muitos dos nossos hábitos são
alterados, vamos sentindo, em muitas das dimensões da nossa vida,
desgaste”, disse, explicando que esse cansaço decorre do recurso
permanente às competências internas para lidar com a ansiedade.No
entanto, ainda que todas as pessoas disponham dessas competências, não
as têm em níveis idênticos e, por isso, o cansaço normal decorrente do
prolongar da pandemia da covid-19 também não se manifesta de igual forma
e em igual ritmo.É também nesse sentido
que Francisco Rodrigues refere que a comunicação e as mensagens,
importantes na minimização dos impactos psicológicos da pandemia, devem
ser claras e direcionadas.“A mensagem é
muito importante na sua clareza, mas para ser percebida tem de ser
dirigida a quem aquela mensagem tem de chegar. Porque a mesma mensagem
pode não ser adequada para outra pessoa”, justificou.Para
clarificar, o bastonário deu o exemplo da conferência de imprensa de
sábado, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, em que
o primeiro-ministro, António Costa, anunciou um conjunto de novas
medidas que não se aplicam a todo o país.“Uma
coisa é comunicar 'fiquem todos em casa' e toda a gente tinha de ficar
em casa. Outra coisa é comunicar mensagens muito diferentes, quase de
pessoa para pessoa”, considerou, acrescentando que a melhor forma de o
fazer era também através de canais diferenciados.“Quem
estiver do lado das autoridades de saúde tem de tentar fazer o possível
de fazer chegar a melhor mensagem, a melhor explicação das medidas ou
do que é necessário fazer pelo canal mais direto possível para não
contaminar outras pessoas para quem a mensagem vai ter de ser
diferente", acrescentou Francisco Rodrigues, admitindo que “é difícil e
não há uma resposta fácil para isto”.Além
do cansaço, o bastonário alerta ainda que o cansaço pode provocar a
indiferença, decorrente de uma perceção mais reduzida do risco, de uma
habituação à presença do novo coronavírus.“Isso
pode fazer com que as pessoas deixem de ter cuidados alguns. Esse é um
dos perigos que pode advir daqui”, avisou, reiterando a importante de as
autoridades repensarem a comunicação.Por
outro lado, Francisco Rodrigues sublinhou que, ainda assim, os efeitos
psicológicos da pandemia vão continuar a fazer-se sentir e a afetar cada
vez mais pessoas, apelando por isso a um reforço do apoio psicológico
que vá além da linha de Aconselhamento Psicológico do SNS24 que, apesar
de positiva, não é suficiente.